sábado, 29 de julho de 2017

Unidade XXVI - A África após 1945

A África após 1945

O processo de descolonização

Os fatores de influência

- a propagação do princípio da autodeterminação das nacionalidades, que embasou o processo de desmembramento dos impérios europeus após a Primeira Guerra Mundial;

- o surgimento de lideranças nacionalistas, que atuaram como canalizadores do sentimento da nacionalidade e mobilizando o povo em torno do projeto emancipacionista;

- o enfraquecimento das potências colonialistas em razão da Segunda Guerra Mundial, o que as deixou sem condições de impedir o avanço da descolonização;

- o apoio recebido das nações reunidas em Bandung em 1955;

- o interesse das superpotências em ampliar suas áreas de influência, o que as levou a apoiar os movimentos de libertação das colônias. O risco neste caso foi o fato de as duas superpotências apoiarem grupos distintos dentro de um mesmo país, o que concorreu para as frequentes guerras civis no continente africano.

As vias de libertação

- a via negociada ou pacífica:
 nela o colonizador admitiu reconhecer a independência da colônia de modo que os vínculos econômicos, políticos e culturais ficassem preservados. Dessa maneira a independência não representa uma ruptura total com a antiga metrópole. Essa prática os ingleses utilizaram-na de modo a integrar suas ex colônias em membros da Commonwealth (Comunidade Britânica). Os franceses, em menor escala, também buscaram construir uma comunidade francesa com suas ex colônias.

- a via violenta: nela o colonizador ofereceu resistência à emancipação de suas colônias, conduzindo o processo irremediavelmente a uma guerra de libertação. Nesse caso há uma ruptura real dos laços entre a ex colônia e a ex metrópole.

- a via revolucionária: ela representa um desdobramento da via violenta e traduz a opção pela via socialista por parte do movimento de libertação.


O estudo de casos africanos

Argélia


     Entre 1954 e 1962 transcorreu a Guerra da Argélia entre o movimento nacionalista (Frente de Libertação Nacional) argelino liderado por Ahmed Ben-Bella e o Estado Francês. Essa guerra decorreu do fato de a França não admitir a emancipação argelina, proclamada em 1954. Para a França a independência da Argélia era interpretada como separatismo, aja vista que o Estado Francês classificava a Argélia como um Departamento, ou seja, uma unidade territorial e política francesa. Por outro lado, havia na Argélia uma elite francesa, os pied-noirs, que, com o apoio da extrema-direita francesa, pressionou o governo da França para não aceitar a emancipação dos argelinos.
     O conflito foi marcado por ações de violência de ambos os lados. A Frente de Libertação levou a guerra para dentro do território francês, ao promover sucessivos atentados, o que deixou o povo francês assustado e favorável a emancipação. Em 1958, os franceses recorreram ao General Charles De Gaulle, comandante do exército da França-Livre na Segunda Guerra, para ocupar o cargo de 1º ministro apostando na sua capacidade de comandar a vitória francesa. Entretanto, De Gaulle, eleito posteriormente Presidente, entendeu que o melhor caminho era o acordo de paz. Respaldado num plebiscito, De Gaulle negociou com Ben-Bella o Acordo de Evian em 1962, no qual a Argélia se tornava um Estado independente.
     Chama atenção o fato de que a elite pied-noir e a extrema direita, frustradas pela independência argelina, patrocinaram uma Organização Terrorista (Organização do Exército Secreto –OES-) cujo propósito inicial era o de inviabilizar o entendimento, chegaram até mesmo a  organizar um fracassado atentado contra De Gaulle.

Congo

     Ex colônia belga, a atual República Democrática do Congo, que já se chamou República Popular do Congo e República do Zaire, se tornou independente em 1960 através de uma negociação entre o movimento de libertação e o governo belga. Entre 1961 e 1963 o país atravessou uma guerra civil, que envolveu o governo nacional formado por Joseph Kasavubu e Patrice Lumumba e as forças separatistas lideradas pelo governo da Província de Catanga de Moisé Tshomb.
     A guerra civil traduziu não apenas a posição separatista de Catanga, mas também os interesses das mineradoras internacionais, que foram atingidas pela nacionalização das reservas minerais decretado pelo governo Kasavubu-Lumumba. Durante o conflito Lumumba deixou o governo e, de forma pouco esclarecida, foi seqüestrado e morto pelos rebeldes separatistas de Catanga. Em 1963 foi assinado um acordo de paz entre Kasavubu e Tshomb, em que este acabou indicado 1º ministro. Entretanto, em 1965 o país passou por um Golpe Militar liderado pelo Coronel Mobutu Seko com o apoio do governo norte americano (Lyndon Johnson), que instalou uma ditadura violenta e corrupta até 1997. Foi o Coronel Mobutu o responsável pela adoção do nome de República do Zaire em 1972.

 Nigéria

   
A ex colônia britânica obteve a independência no início da década de 1960 e emancipada ingressou na Commonwealth, de modo que, os laços políticos e econômicos com a Inglaterra foram mantidos, inclusive a presença de petrolífera britânica atuando no país.
     Em 1967 a Nigéria começou a enfrentar uma violenta guerra civil, que se estendeu até 1970. Esse conflito conhecido como Guerra Nigéria-Biafra ou apenas Guerra de Biafra, decorreu da tentativa da região de Biafra de se tornar independente do Estado Nigeriano. O fato deflagrador do separatismo dos Igbos foi a retomada do poder pela tribo dos hauçás, que reagiram ao Golpe promovido  pelos Igbos.
Essa guerra foi uma das mais violentas na África, com milhares de mortes provocadas pela fome, cujas imagens eram transmitidas para o Ocidente. A Guerra de Biafra terminou com  cerca de 2 milhões de mortos e o recuo separatista dos Igbos (tribo dominante na região) e a preservação da unidade nacional nigeriana.


Santos
A presença de Pelé na Nigéria em meio a guerra civil
Curiosidade

   O jornalista Gilberto Castor Marques, enviado especial de “A Tribuna”, que acompanhava o Peixe (apelido do time santista) escreveu que quando o Alvinegro chegou na cidade de Benin, foi decretado feriado na parte da tarde daquele dia pelo governador da região nigeriana, tenente coronel Samuel Ogbemudia, o qual também autorizou que a ponte sobre o rio que ligava Benin a cidade de Sapele tivesse a passagem liberada para que todos, indistintamente, pudessem assistir ao jogo. Akenzua II, conhecido como “The Oba de Benin” era o rei local. Logo após o time brasileiro embarcar no avião para sair da Nigéria, o conflito foi retomado. Daí ter sido criada a história de que Pelé paralisou uma guerra civil.

A África Portuguesa

     As colônias portuguesas na África (Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) obtiveram a independência em 1975 após a vitória  da Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974 contra o Salazarismo. Essa conquista traduziu a participação do movimento nacionalista nas colônias na luta contra a ditadura salazarista após a Segunda Guerra Mundial. Com relação ao processo de emancipação vale ressaltar, que em Angola e em Moçambique, após terem sua independência reconhecida pelo governo português instalado após a Revolução, enfrentaram guerras civis em seus territórios nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Essas guerras repercutiram a falta de unicidade política e ideológica nas várias correntes, que compuseram o movimento nacionalista angolano e moçambicano. Se não bastasse isso, essas guerras repercutiram também a polarização ideológica que marcava a Guerra Fria, logo a rivalidade entre o capitalismo norte americano e o socialismo soviético.

(1975/2002) A Guerra Civil Angolana

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Agostinho Neto (MPLA)   Jonas Savimbi (UNITA)  e Holdden Roberto (FNLA)

     Em 1975 através do Acordo de Alvor Angola foi reconhecida como país independente. Entretanto, na luta pela libertação formaram-se três grupos: MPLA, FNLA e UNITA. A impossibilidade de constituir um governo de unidade provocou uma disputa entre as lideranças o que levou os grupos a serem protagonistas de uma guerra civil.
     O MPLA liderado por Agostinho Neto instalado em Luanda se apresentou como representante do poder, o que não foi reconhecido pela FNLA liderada por Holden Roberto, como também pela UNITA sob o comando de Jonas Savimbi, daí o início da guerra civil.
     O MPLA contou com apoio de Cuba, da mesma forma que a FNLA teve a ajuda do Zaire do Coronel Mobutu e contou com a ajuda material de Londres e de Washington. Por outro lado a UNITA recebeu todo o suporte do regime do apartheid sul africano e dos EUA e do Reino Unido.
     O fim da Guerra Fria no final dos anos 80 teve forte influência no cessar fogo firmado em 1992 e no acordo para realização de eleições. Entretanto, o líder da UNITA derrotado nas eleições presidenciais não concordou com o resultado e decidiu retomar a luta armada contra o governo do MPLA de José Eduardo Santos, que substituíra Agostinho Neto morto em 1979 e que foi eleito presidente em 1994. A morte de Jonas Savimbi em 2002 foi decisiva para assinatura do acordo de paz. 


(1975/1992) A Guerra Civil Moçambicana

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 Samora Machel (Frelimo)

   
    Moçambique teve uma situação muito similar a de Angola, pois com a independência reconhecida em 1975, não foi possível formar um governo de união nacional, porque a FRELIMO de orientação marxista sob a liderança de Samora Machel e com apoio cubano, assumiu a condição de governo nacional o que não foi reconhecido pela RENAMO grupo anticomunista, apoiado pelos governos da África do Sul, da Rodésia e dos EUA. A posição da Renamo foi decisiva para o início da guerra civil.
     Em 1992 na conjuntura pós Guerra Fria, foi assinado o Acordo Geral de Paz, que pôs fim a guerra civil e que transformou a FRELIMO e a RENAMO em partidos políticos.

       
 O envolvimento da África do Sul nas guerras civis angolana e moçambicana

     O apoio oferecido pelo governo racista do Apartheid aos grupos  que combatiam o MPLA em Angola e a FRELIMO em Moçambique, deveu-se ao fato de:

- serem ambos os governos comunistas;

- por darem apoio à Frente de oposição ao Apartheid no continente africano;

- por oferecerem ajuda a SWAPO, Organização Popular da África Sul Ocidental, na luta de libertação da Namíbia, região dominada pela África do Sul,

África do Sul e o Apartheid
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                       Imagens caracterizadoras do Apartheid
     A região da extremidade sul do continente africano foi palco do interesse dos europeus desde o século XV, dada a sua posição estratégica na transição do Atlântico para o Índico. No final do século XIX foi teatro de uma guerra entre ingleses e holandeses pelo controle das regiões de diamantes e de ouro do Transvaal e do Orange, a Guerra dos Böers.  No século XX ali se instalou o mais odioso regime político, o Apartheid. Na África do Sul a minoria branca , formada por descendentes de ingleses e de holandeses institucionalizou a segregação racial, excluindo a maioria negra da condição de cidadania. Pelas leis do Apartheid os negros não podiam ser proprietários de terras, não tinham representação política, deveriam habitar regiões separadas das ocupadas pelos brancos, não podiam se casar com brancos e as relações sexuais interraciais foram consideradas ilegais, A separação física entre brancos e negros se traduziu na criação dos Bantustões, as áreas no interior destinadas as comunidades negras e das favelas localizadas na periferia das grandes cidades como a de Soweto e a de Sharpeville, que constituíram núcleos da resistência dos negros contra o Apartheid.
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Imagens de Nelson Mandela: jovem, prisioneiro, Presidente e no Prêmio Nobel

     Na luta contra o Apartheid destacou-se o CNA (Congresso Nacional Africano) em que despontou a liderança de Nelson Mandela um admirador confesso de Gandhi, que também defendia a via pacífica contra o Apartheid. Entretanto, o assassinato em 1960 de cerca de 70 negros no Massacre de Sharpeville em razão de uma manifestação pacífica contra o regime, mudou os rumos da luta de resistência, que ganhou um tom de maior contundência e de violência. A resposta do governo não tardou: o CNA foi colocado na ilegalidade e Mandela foi capturado e condenado a prisão perpétua.
     Nas décadas de 1970 e 1980 a pressão internacional contra o Apartheid aumentou. Em 1972 a África do Sul foi excluída dos Jogos de  Munique, porque havia uma ameaça de boicote aos jogos pelos países africanos. Em 1977 foi decretado o embargo da venda de armas para a África do Sul. Em 1985 a ONU impôs sansões econômicas à África do Sul. Em 1989 nas eleições sul africanas houve a formação do governo Frederick De Klerk, que deu início a um processo de transição pela via negociada, cujo primeiro passo foi libertar Mandela da prisão, em seguida revogar as leis segregacionistas ratificadas por um plebiscito em que 69% dos brancos votaram a favor. O processo de transição política foi concluído em 1994,  com as primeiras eleições multirraciais, com a vitória de Mandela candidato do CNA.

  Em 1993 a Academia Sueca, conferiu a De Klerk e a  Mandela o Nobel da Paz.

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     o Bispo Anglicano Desmond Tutu

     No governo Mandela foi aprovada a Lei dos Direitos sobre a Terra e a criação da Comissão de Reconciliação e Verdade, esta para investigar, esclarecer e denunciar os responsáveis por crimes de tortura e de mortes no período do Apartheid. Esta Comissão foi presidida por uma das mais importantes figuras sul africanas na luta de resistência ao Apartheid, o Bispo Anglicano Desmond Tutu, cuja luta o levou em 1984 a ganhar o Nobel da Paz.

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