sábado, 29 de julho de 2017

Unidade VII: as Revoluções Inglesas do século XVII

As Revoluções Inglesas do século XVII

     Ainda que tenhamos usado o plural para dar nome a esse capítulo sobre  a história política da Inglaterra no século XVII há entre os historiadores alguns que consideram, que na verdade houve apenas uma revolução,  dividida em dois momentos separados por 40 anos revelando um confronto entre as velhas e as novas classes sociais ligadas ao feudalismo e ao capitalismo respectivamente.
     Sob o ponto de vista do historiador inglês Eric Hobsbawm no livro a Era das Revoluções: “havia assim um conflito latente, que logo se tornaria aberto entre as forças da velha e da nova sociedade burguesa, que não podia ser resolvido dentro da estrutura do regime político existente”.
     Para a compreensão desse processo revolucionário se impõe identificar os diferentes segmentos sociais e suas convicções religiosas:

- nobreza (Pares) de origem feudal grande proprietária de terras, dava apoio ao absolutismo. Era adepta do Anglicanismo. Segmento em flagrante processo de declínio em razão do avanço do capitalismo.

- nova nobreza (gentry) de mentalidade capitalista, foi favorecida pelo Cercamento dos campos. A gentry se opunha ao absolutismo e às práticas de concessão de monopólios e de adoção do protecionismo. Era adepta do calvinismo, dividida em puritanos e presbiterianos.

- pequenos proprietários e arrendatários (yomen).  tinham uma clara definição religiosa puritana, foram integrantes dos exércitos na Idade Média e o seriam na Revolução Puritana sob liderança de Cromwell.

- camponeses excluídos pelo Cercamento do uso das terras comunais e jornaleiros nas cidades. Não tinham uma clara definição religiosa.

- burguesia mercantil, esse segmento dividia-se entre anglicanos e puritanos. Anglicanos aqueles que recebiam os privilégios comerciais por parte do Estado. Puritanos os que se opunham ao absolutismo e adeptos da república. A burguesia mercantil, ao lado da gentry, participou intensamente nas Revoluções Puritana e Gloriosa.

O processo revolucionário
(1642/48) A Revolução Puritana
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Carlos I
     Essa Revolução repercutiu um confronto entre o Parlamento, sob liderança da gentry e da burguesia, o monarca Carlos I (Stuart) por razões de natureza religiosa e política:

- do ponto de vista da questão religiosa, ela manifestou uma reação contra Carlos I, que pretendeu impor o Anglicanismo a toda Grã Bretanha, indo de encontro aos calvinistas (puritanos e presbiterianos);
- quanto a questão política, ela manifestou o conflito entre a autoridade do monarca e a do Parlamento, isto porque Carlos I a revelia do Parlamento estendeu a cobrança do Ship Money (imposto pago pelas cidades portuárias) à todas as cidades.
    
     Sob a liderança de Oliver Cromwell (1599/1658) o New Model Army (Exército Revolucionário do Parlamento) com os cabeças redondas enfrentou e derrubou as forças de Carlos I que era apoiado pelos cavaleiros  (representantes da velha nobreza de origem feudal). Com a vitória dos puritanos, houve a queda e execução de Carlos I e a instalação da República (1649/1658).

(1649/58) A República de Cromwell 

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     Nessa que foi a primeira e única experiência republicana inglesa, Oliver Cromwell se intitulou  Lorde Protetor  e promoveu uma série de políticas que atenderam as expectativas da burguesia e da gentry como:
- aprovação em 1651 do 1º Ato de Navegação, em que determinou a exclusividade para a marinha mercante inglesa  do transporte de mercadorias que entrassem ou que saíssem  da Inglaterra, esta medida foi responsável por um lado do desenvolvimento da construção naval e das companhias de comércio. Mas por outro lado acirrou a rivalidade com os holandeses e acabou por resultar na Guerra dos Mares entre os dois países;
- Incentivo ao Cercamento dos campos com o confisco de terras da Igreja Anglicana e  também das terras dos católicos na Irlanda. O confisco das terras dos católicos na Irlanda está na origem do conflito entre protestantes e católicos naquela região, que se estende até hoje;
- repressão aos movimentos dos levellers (niveladores) que defendiam uma república dos pequenos proprietários e dos diggers (escavadores) defensores de uma distribuição igualitária das terras. A repressão afastou a ameaça dos camponeses sobre as propriedades da gentry.
Apesar de ter representado uma reação ao absolutismo de Carlos I, a Revolução Puritana resultou na instalação de uma ditadura sob a conduta de Cromwell, que manteve desde 1653 o Parlamento fechado. Entretanto, em razão do atendimento dos interesses da burguesia e da gentry, em nenhum momento essas classes sociais apontaram para uma reação contra o Lorde Protetor.

(1660/88) A restauração dos Stuarts e a Revolução Gloriosa (1688/89)
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Jaime II



   Após a morte de Cromwell em 1658, a sua sucessão foi feita através de seu filho Ricardo, num típico processo sucessório monárquico, mas em razão da instabilidade política no governo do herdeiro de Oliver Cromwell,  o Parlamento entendeu que o melhor era  a restauração da monarquia com Carlos II (1660/85) e Jaime II (1685/88) ambos Stuarts e filhos de Carlos I.   
   Em 1688, numa aliança entre os Whigs (partido de tendência liberal) e os Tories (partido conservador), o Parlamento determinou o afastamento de Jaime II em razão das suas manifestações favoráveis a restauração do catolicismo, o que para a burguesia e para a gentry apontavam para o risco de restauração da velha ordem absolutista nos moldes franceses.
   Em 1689, com a publicação do Bill of Rights (Declaração de Direitos), inspiradas nas ideias do pensador inglês John Locke (suas ideias serão abordadas na unidade VIII), estabeleceu-se o sistema parlamentarista de governo que subordinou o monarca ao Parlamento, consagrando a máxima “o rei reina, mas não governa”. Tendo o controle da situação política, as lideranças da revolução ofereceram o trono inglês ao genro de Jaime II, Guilherme de Orange (holandês), que assumiu o trono como Guilherme III e jurou cumprir a Declaração de Direitos e respeitar a autoridade do Parlamento
     Com relação às mudanças provocadas pela Revolução Gloriosa, não há dúvida que a mais expressiva delas foi a ascensão da burguesia e da gentry ao poder através do sistema parlamentarista, que contribuiu diretamente para adoção de medidas de estímulo a industrialização como a redução de impostos e da taxa de juros para os empréstimos destinados ao setor. Daí o fato de a Revolução Gloriosa ser considerada como a razão política do pioneirismo inglês na Revolução Industrial do século XVIII.

     “Que o povo é, abaixo de Deus, a origem de todo o poder justo; que os Comuns da Inglaterra, reunidos no Parlamento, sendo escolhidos pelo povo e representando o povo, têm o poder supremo nesta nação; que o que quer que seja aprovado ou declarado lei pelos Comuns reunidos no Parlamento tem força de lei [...] embora o consentimento do rei ou da Câmara dos Pares não tenha sido obtido”.

[Decisão aprovada em 04 de janeiro de 1649 pelo grupo independente da Câmara dos Comuns, o Rump]


A Guerra dos Mares entre ingleses e holandeses no século XVII
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“[...] Em 1651 o Rump (grupo independente da Câmara dos Comuns) aprovou o Ato de Navegação determinando que todos os artigos importados pela Inglaterra fossem trazidos   em navios ingleses ou nos navios do país em que tivessem efetivamente sido produzidos. Esta era uma tentativa de privar os holandeses de uma parte de sua atividade transportadora, que haviam conseguido por causa do número, tamanho e eficiência dos seus navios e da perfeição de sua organização comercial, e que tronara a Holanda um centro de redistribuição de mercadorias trazidas de todas as partes do mundo. O Ato de Navegação, em si, não levava necessariamente à guerra. Leis semelhantes haviam sido aprovadas antes, e a não ser por pequenos períodos ocasionais. Haviam sido cumpridas à risca.
O Rump estava, no entanto, decidido a guerrear e acompanhou a Lei de Navegação de uma série de provocações. Quando veio o conflito, foi uma guerra de comércio, obra exclusiva dos mercadores e desaprovada tanto por Cromwell como pelo Exército em conjunto. À medida que se arrastava, tronava-se cada vez mais impopular, apesar de alguns êxitos navais. Acabou sendo custosa, tornando necessário o aumento de impostos e interferindo seriamente no comércio exterior, que começava justamente a se recuperar do caos da Guerra Civil.
Para a Holanda, a guerra foi desastrosa, como deveria ser qualquer conflito com a Inglaterra, pela simples razão geográfica de que esta se situava no meio de todas as rotas comerciais de cuja manutenção dependia o sustento da maioria do povo holandês. Foi a fome, mais do que as vitórias navais, que forçou a Holanda a fazer a paz em 1654, uma paz em que a Inglaterra nada ganhou de concreto que não pudesse ter obtido antes da guerra começar [...]”.

[MORTON, A.L. A História do Povo Inglês. Coleção: Perspectivas do Homem. Vol. 59 pp.230-31]



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Guilherme de Orange ou Guilherme III, não era Whig e nem era Torie.
Segundo o historiador George McCaulay Trevelyan em seu livro A Revolução Inglesa:
      “Guilherme não veio por amor à Inglaterra ou por ter pena dos infortúnios da ilha. Nem o país nem seus habitantes fizeram qualquer apelo às suas afeições, que todas centradas na Holanda. Sua esposa amava a Inglaterra, mas não era seu hábito basear sua política em conferência com Maria, nem ela o teria apressado a atacar seu próprio pai. Sua natureza gentil percebeu toda a tragédia da sua posição, mas ela silenciosamente acatou a decisão do marido que ela adorava como única maneira de salvar a Inglaterra, Holanda e a causa protestante.
      Guilherme, então, não estava sob qualquer obrigação moral ou pessoal de arriscar a riqueza do pequeno país dos diques e canais pela segurança de um país que havia frequentemente tratado, tanto ele quanto a Holanda, muito mal. Mas em seu frio julgamento, a Holanda só poderia ser salva de ser conquistada definitivamente pela França, se a Inglaterra fosse trazida como uma sócia ativa aliança antifrancesa que ele havia penosamente erguido na Europa. Se ele próprio pudesse se tornar rei da Inglaterra, este objetivo seria certamente atingido. (...) A declaração de Guilherme, com a qual ele anunciou sua vinda, participava que ele havia sido convidado para restaurar as liberdades arrebatadas ao povo inglês. A cláusula essencial da declaração era a que apelava para que todas as questões pendentes fossem decididas por um Parlamento livremente eleito. Um Parlamento livre (...)”



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