sábado, 29 de julho de 2017

Unidade XVIII: A Revolução Russa de 1917

A Revolução Russa de 1917

     Em 25 de outubro de 1917 invocando o lema “todo o poder aos sovietes”, os bolchevistas, liderados por Lênin, instalaram o governo revolucionário dos Comissários do Povo e iniciaram a execução de um grande projeto de construção do socialismo, que havia se inspirado no Marxismo e no Leninismo.

a) Antecedentes da Revolução
Resultado de imagem para imagens da familia romanov
Czar Nicolau II e Família
     No século XIX na Rússia Czarista, nos períodos de Alexander II e Alexander III, o país passou por um grande programa de mudança na sua ordem econômica e social representada na supressão da servidão e no incentivo à formação de pequenas propriedades rurais, política adotada pelo Czar Alexander II em 1861 pela publicação de um Decreto Governamental de Supressão da Servidão e representada também na industrialização promovida pelo Czar Alexander III, que estimulou o ingresso de capitais estrangeiros, essa industrialização foi responsável também pela formação da classe operária russa. Em grande parte o proletariado russo originou-se no êxodo rural provocado por milhares de camponeses, que perderam as terras adquiridas no período de Alexander II. Essa perda deveu-se a incapacidade de pagamento do endividamento contraído na aquisição da terra.
     Essa modernização não significou a supressão das diferenças sociais, ao contrário até mesmo acentuou-as com a adoção do capitalismo. Mas por outro lado, a formação da numerosa classe operária concentrada em algumas poucas cidades como São Petersburgo, Kiev, Minsk e Odessa facilitou o processo de organização política através da criação do Partido Operário de orientação Marxista, que em 1903 dividiu-se em duas facções: bolchevistas (maioria) e menchevistas (minoria).

     Com relação a ordem política, no século XIX, ela estava representada por um Estado Absolutista cujo poder se concentrava nas mãos do imperador (Czar) apoiado pelos segmentos da nobreza de origem feudal e controladora da burocracia estatal,  do clero ortodoxo, que exercia um papel de controle ideológico e do Exército cujo papel era o da repressão política.
     Essa ordem política e econômica ensejou a formação de uma oposição liberal burguesa representada na criação do Partido K.D.T. (Constitucional Democrata) insatisfeita com o modelo de industrialização que privilegiou o capital estrangeiro em prejuízo do capital nacional e uma oposição de esquerda representada nos Narodinicks (socialistas revolucionários) que defendiam uma via comunista de base camponesa e o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) de orientação marxista que pregava uma revolução pela via proletária

                 
                   A ruptura da unidade do Partido Operário

     Em 1903 o P.O.S.D.R. reunido em Bruxelas, se dividiu em duas facções: menchevista e bolchevista. Ambas eram marxistas, mas divergiam com relação à deflagração do movimento revolucionário.

     Os menchevistas, liderados por Julius Martov, consideravam que a Rússia não atingira plenamente o capitalismo, logo ainda não existiam as condições ideais para uma revolução proletária. Os mencheviques admitiam uma aliança com a burguesia para levar a Rússia a etapa capitalista e, em seguida, conduzi-la ao comunismo.
Resultado de imagem para o partido bolchevista
O início do Partido Bolchevique
  
   
Os bolchevistas, sob a liderança de Lênin, ao contrário consideravam que havia um capitalismo suficientemente instalado e uma classe proletária numerosa e organizada para fazer a revolução. Para os bolcheviques não havia hipótese de uma aliança do proletariado coma burguesia e que esta deveria ser tratada como inimiga dos trabalhadores.




O processo revolucionário

A Revolução de 1905 (O Ensaio Geral)
     Em meio a guerra contra o Japão (guerra interimperialista) no Pacífico, a Rússia experimentou uma turbulência social e política através das greves e passeatas dos trabalhadores em São Petersburgo. Entre as diversas passeatas, inclui-se a de 09 de janeiro de 1905 liderada pelo Padre Gapone, cujo propósito era abrir um canal de conversas com o imperador Nicolau II. 
     
Resultado de imagem para o domingo sangrento russo
O Domingo Sangrento (09 de janeiro de 1905)

Entretanto, a reação do governo que mandou atirar nos manifestantes fechou qualquer possibilidade de negociação, esse episódio ficou conhecido como domingo sangrento. 


A ele se acrescenta uma tentativa frustrada do governo de reprimir os manifestantes com os marinheiros. Entretanto, para a surpresa do Czar os marinheiros se reuniram aos manifestantes protestando contra os castigos corporais que sofriam e contra a péssima alimentação que recebiam. A reação dos marinheiros ficou celebrizada na sublevação dos tripulantes do Couraçado Potemkim.
    
Resultado de imagem para o couraçado potemkin
O Couraçado Potemkim
A atitude repressora do governo provocou dois efeitos sobre as manifestações:
-o caráter pacifista até então predominante, foi substituído por atos de violência contra as forças do regime;
-as manifestações até então em São Petersburgo estenderam a outras cidades, ganhando assim maior intensidade.
     Esse quadro convenceu o governo da necessidade de negociar. O primeiro passo se deu com a assinatura, em setembro, do Tratado de Portsmouth com o Japão, que pôs termo a guerra entre os dois países. No mês seguinte Nicolau II encaminhou uma proposta de reforma política através do Manifesto de Outubro. Essa proposta resultou na instalação de uma Duma Constituinte, eleita pelo voto censitário, para dar a forma jurídica à monarquia constitucional. Essa reforma, atendia as expectativas da burguesia liberal, mas, estava distante daquilo que as classes populares pleiteavam, por não apontar para reformas sociais.
     Segundo Lênin, líder da facção Bolchevique, a Revolução de 1905, do ponto de vista popular, se traduziu na organização dos Sovietes, comitês populares formados por operários, camponeses e soldados, que se constituíram no núcleo de articulação da Revolução Socialista de outubro de 1917.

Resultado de imagem para a revolução de fevereiro de 1917
A Revolução Liberal de fevereiro de 1917
  Esse evento revolucionário foi responsável pelo afastamento do Czar Nicolau II do trono e pela queda da Monarquia. Essa revolução foi liderada pela burguesia liberal, organizada no Partido KDT e majoritária na Duma Legislativa, que considerou o quadro político e econômico da Rússia muito propício para a ocorrência de uma revolução popular, e aí ela tomou a iniciativa de fazê-la.


                    A CONJUNTURA POLÍTICA E ECONÔMICA RUSSA EM 1917

     Em 1917 a Rússia atravessava um período de grandes perdas econômicas e humanas em decorrência da Primeira Guerra Mundial, na qual os russos ingressaram desde o seu início em apoio aos sérvios, contra o Império Austro Húngaro, em nome do Pan Eslavismo.
     A fragilidade econômica e militar da Rússia ficou muito evidente com os mais de 4 milhões de mortos nos campos de combate e de alguns milhares vítimas da fome provocada pelo desabastecimento.
     Em meio a essa turbulência sucederam-se as manifestações populares, organizadas nos Sovietes e traduzidas em greves e frequentes passeatas. Foi isso que mostrou à burguesia o risco de uma revolução popular. Assim, os setores liberais entenderam que “se eles não fizessem a revolução, o povo a faria”.


     Com a deposição do Czar Nicolau II, formou-se um governo Provisório de coalizão constituído pela burguesia e pelos menchevistas, segmento da esquerda que admitia uma aliança com a burguesia. Os menchevistas estavam representados no governo pelo ministro Alexander Kerensky.
O governo provisório promoveu reformas políticas como: 
voto universal;
- legalização dos partidos;
- a lei da anistia para exilados e presos políticos;
- as leis sociais.
     Entretanto, ignorou as reformas sociais e não retirou a Rússia da Guerra, atendendo aos interesses da burguesia produtora de armas e de munições. A atitude vacilante do governo e o retorno das lideranças bolchevistas foram fundamentais para a Revolução de 25 de outubro.

A Revolução Bolchevista de Outubro de 1917


Resultado de imagem para a revolução de outubro de 1917
Lênin em seu retorno à Rússia (abril de 1917)
     Em 25 de outubro de 1917 levantando a bandeira “todo o poder aos sovietes”, os bolchevistas liderados por Lênin, Trotsky entre outros, levaram os trabalhadores às ruas e derrubaram o governo provisório, que não ofereceu resistência. Daí o fato de no dia seguinte ter sido instalado o governo dos Comissários do Povo, cujas primeiras decisões se orientavam nas Teses de Abril e o no programa Bolchevique.


                                                    AS TESES DE ABRIL

     Com a anistia concedida pelo governo provisório, Lenin que estava no exílio na Suiça, voltou à Rússia. Ao retornar publicou as Teses de Abril em que apresentava as prioridades do povo russo, que uma revolução deveria considerar. Lênin as traduziu na trilogia: PAZ, TERRA E PÃO (tirar a Rússia da Guerra, entregar a terra ao camponês e combater a fome).

                                               O PROGRAMA BOLCHEVIQUE
     Sob a liderança de Lênin, os bolcheviques definiram as diretrizes de uma revolução popular:
- coletivização dos meios de produção, a partir de uma expropriação total;
- entrega da terra aos camponeses;
- entrega das fábricas aos operários;
- nacionalização dos capitais estrangeiros na Rússia;
- confisco da dívida externa;
- soberania para as nacionalidades dominadas pelo Império Russo.


     De modo a garantir a execução das mudanças, o governo bolchevique criou o Exército Vermelho para enfrentar as reações externas e a polícia política, a Tcheca, para combater a resistência interna.
     Em 1918, com o fim da Primeira Guerra, as atenções do Ocidente se voltaram para a Rússia. Desse modo, as forças ocidentais adotaram duas estratégias contra os bolcheviques: uma promover o isolamento (cordão sanitário), outra apoiar os contrarrevolucionários (russos brancos) na guerra civil que se instalou no país neste mesmo ano.
Resultado de imagem para a guerra civil russa de 1918
     A guerra civil, mesmo com o triunfo da Revolução (russos vermelhos), deixou um quadro de gravíssimas proporções. A fome teve seu quadro agravado, os setores produtivos flagrantemente estavam estagnados ou até mesmo paralisados, provocando o desabastecimento. Se não bastassem esses números, a Rússia Bolchevista ainda enfrentava uma escassez de recursos financeiros para promover uma rápida reconversão econômica. Para tornar o quadro mais preocupante, os camponeses davam sinais de insatisfação com o regime de requisição da produção, que havia sido usado na guerra civil e estava mantido.

           
                                    A REVOLTA DO KRONSTADT DE 1921

     Essa revolta, ocorrida na Base militar do Kronstadt, expressou a insatisfação do campesinato com a política das requisições. O camponês aceitou entregar ao Estado a totalidade da sua produção durante a Guerra Civil, compreendendo a estratégia bolchevique de promover uma distribuição igualitária e assim construir uma aliança que enfrentasse e vencesse os russos brancos.
     Entretanto, com o término da Guerra Civil os camponeses manifestaram-se contra a continuidade das requisições e reagiram diminuindo a produção. Essa atitude colocava em risco todo o projeto da Revolução. Isso exigiu de Lênin medidas emergenciais e eficazes, que se traduziram na Nova Economia Política (N.E.P.)



 1921-1928 – A Nova Economia Política (NEP)
Imagem relacionada

     O quadro econômico, após a guerra civil, levou o governo Lênin a promover uma mudança na ordem econômica russa, segundo ele a hora exigia dar um passo atrás. Desse modo a Rússia, para recuperar o setor secundário, buscou atrair capitais externos para o setor, embora só admitindo-os na produção de bens de consumo, os setores de base ficariam sob controle do Estado. Além disso, Lênin autorizou o camponês a utilizar até 90% daquilo que produzia, da forma que melhor lhe aprouvesse. A NEP também trouxe de volta a desigualdade salarial, que havia sido suprimida durante a guerra civil, como também autorizou os camponeses a transferirem o direito de uso da terra para terceiros. Essa decisão fez ressurgir a figura dos grandes proprietários de terras (kulaks ou culaques). Mas, os números alcançados no período mostraram a eficácia da nova política econômica.
     Entretanto, nesse período os russos sofreram um grande revés, a morte de Lênin em 1924. A perda do líder bolchevista criou na Rússia uma disputa pelo poder entre dois outros líderes: Joseph Stalin Secretário Geral do Partido Comunista e grande responsável pela construção da URSS em 1922 e Leon Trotsky ideólogo, historiador da revolução e comandante do Exército Vermelho na Guerra Civil.


    (1924-1928) A QUEDA DE BRAÇOS ENTRE STALIN E TROTSKY
    Resultado de imagem para stalinResultado de imagem para trotsky

     A disputa entre Trotsky e Stalin ia além da simples disputa pelo controle da URSS, eles tinham posições conflitantes também em relação aos rumos do socialismo e da própria revolução.
     Trotsky defendia a revolução permanente e entendia que a consolidação do socialismo estaria diretamente relacionada à sua expansão pelo mundo. Para ele cabia a URSS apoiar esse processo.
     Stalin ao contrário de Trotsky defendia uma consolidação do socialismo na URSS, para posteriormente promover a sua expansão. Daí ter sido criada a expressão de socialismo num só país.


1928-1953 – O Stalinismo
Resultado de imagem para stalinismo
     Depois de uma intensa disputa com Trotsky, Stalin, que já ocupava o poder desde 1924, teve a oportunidade de instituir um regime centralizado, intolerante, repressor, violento e militarista na URSS.
     Stalin promoveu uma depuração no Partido Comunista, que resultou em expurgos, prisões e execuções. Entre os que sofreram com a intolerância de Stalin estava Trotsky, este, sofreu o expurgo e mesmo estando no exílio no México não escapou do braço stalinista, que o executou. 


Estima-se que o stalinismo tenha sido responsável por milhões de mortes e pela prisão de milhares de pessoas colocadas nos campos de trabalhos forçados na Sibéria.
    
Resultado de imagem para campos de prisioneiros sovieticos na sibéria
IMAGEM DE PRISIONEIROS NO GULAG

     Por outro lado a stalinização foi responsável por importantes conquistas no campo econômico e social e transformou a URSS numa superpotência após a Segunda Guerra Mundial, nos tempos da Guerra Fria.

     O Stalinismo também foi responsável pela expansão do modelo soviético para o Leste Europeu após a Segunda Guerra Mundial. Essa expansão resultou da negociação entre Stalin e Roosevelt na Conferência de Yalta de fevereiro de 1945, em que ficou acordado entre os líderes, que os territórios que haviam sido libertados do domínio nazista pelos comunistas e pelo Exército Vermelho ficariam sob a coordenação política de Moscou na formação de novos governos. Daí a instalação de governos pró Moscou e, em sua maioria, submissos à sovietização, por conseguinte satélites da URSS. Nesse contexto não se inclui a (ex) Iugoslávia e a Albânia.
    
  
O STALINISMO NO CAMPO ECONÔMICO

- planificação econômica (definição pelo Estado das metas, dos prazos, do volume de investimento e contingente de trabalhadores a serem utilizados);

- planos quinquenais. Fruto da planificação eles definiam metas a serem alcançadas em 05 anos. Os planos quinquenais deram particular ênfase aos setores de base, da infraestrutura, essenciais e pesados;
Resultado de imagem para sovkhozes
- coletivização da terra através dos Kolkhozes e dos Sovkhozes;
- desenvolvimento da indústria de armamentos e munições, em razão da pressão exercida pela Segunda Guerra Mundial e posteriormente pela Guerra Fria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Questões objetivas sobre a emancipação afro-asiática

1. (Pucsp 2017)  “Virou-se para Teoria. Este ainda não dormia. Sem Medo segredou-lhe: – O que conta é a ação. Os problemas do Movimento...