A Revolução Russa de 1917
Em 25 de outubro de 1917 invocando o
lema “todo o poder aos sovietes”, os bolchevistas, liderados por
Lênin, instalaram o governo revolucionário dos Comissários do Povo e iniciaram
a execução de um grande projeto de construção do socialismo, que havia se
inspirado no Marxismo e no Leninismo.
a) Antecedentes da Revolução
Czar Nicolau II e Família |
No século XIX na Rússia Czarista, nos períodos
de Alexander II e Alexander III, o país passou por um grande programa de
mudança na sua ordem econômica e social representada na supressão da servidão e
no incentivo à formação de pequenas propriedades rurais, política adotada pelo
Czar Alexander II em 1861 pela publicação de um Decreto Governamental de
Supressão da Servidão e representada também na industrialização promovida pelo
Czar Alexander III, que estimulou o ingresso de capitais estrangeiros, essa
industrialização foi responsável também pela formação da classe operária russa.
Em grande parte o proletariado russo originou-se no êxodo rural provocado por
milhares de camponeses, que perderam as terras adquiridas no período de
Alexander II. Essa perda deveu-se a incapacidade de pagamento do endividamento
contraído na aquisição da terra.
Essa modernização não
significou a supressão das diferenças sociais, ao contrário até mesmo
acentuou-as com a adoção do capitalismo. Mas por outro lado, a formação da
numerosa classe operária concentrada em algumas poucas cidades como São
Petersburgo, Kiev, Minsk e Odessa facilitou o processo de organização política
através da criação do Partido Operário de orientação Marxista, que em 1903
dividiu-se em duas facções: bolchevistas (maioria) e menchevistas (minoria).
Com relação a ordem política,
no século XIX, ela estava representada por um Estado Absolutista cujo poder se
concentrava nas mãos do imperador (Czar) apoiado pelos segmentos da nobreza de
origem feudal e controladora da burocracia estatal, do clero ortodoxo,
que exercia um papel de controle ideológico e do Exército cujo papel era o da
repressão política.
Essa ordem política e
econômica ensejou a formação de uma oposição liberal burguesa representada na
criação do Partido K.D.T. (Constitucional Democrata) insatisfeita com o modelo
de industrialização que privilegiou o capital estrangeiro em prejuízo do
capital nacional e uma oposição de esquerda representada nos Narodinicks
(socialistas revolucionários) que defendiam uma via comunista de base camponesa
e o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) de orientação marxista que
pregava uma revolução pela via proletária
A ruptura da unidade do Partido
Operário
Em 1903 o P.O.S.D.R. reunido em Bruxelas, se dividiu em duas facções: menchevista
e bolchevista. Ambas eram marxistas, mas divergiam com relação à deflagração
do movimento revolucionário.
Os
menchevistas, liderados por Julius Martov, consideravam que a Rússia não
atingira plenamente o capitalismo, logo ainda não existiam as condições
ideais para uma revolução proletária. Os mencheviques admitiam uma aliança
com a burguesia para levar a Rússia a etapa capitalista e, em seguida,
conduzi-la ao comunismo.
Os bolchevistas, sob a liderança de Lênin, ao contrário consideravam que havia um capitalismo suficientemente instalado e uma classe proletária numerosa e organizada para fazer a revolução. Para os bolcheviques não havia hipótese de uma aliança do proletariado coma burguesia e que esta deveria ser tratada como inimiga dos trabalhadores. |
O processo revolucionário
A Revolução de 1905 (O Ensaio Geral)
Em meio a guerra contra o Japão (guerra
interimperialista) no Pacífico, a Rússia experimentou uma turbulência social e
política através das greves e passeatas dos trabalhadores em São Petersburgo.
Entre as diversas passeatas, inclui-se a de 09 de janeiro de 1905 liderada pelo
Padre Gapone, cujo propósito era abrir um canal de conversas com o imperador
Nicolau II.
O Domingo Sangrento (09 de janeiro de 1905) |
Entretanto, a reação do governo que mandou atirar nos manifestantes fechou qualquer possibilidade de negociação, esse episódio ficou conhecido como domingo sangrento.
A ele se acrescenta uma tentativa frustrada do governo de reprimir os manifestantes com os marinheiros. Entretanto, para a surpresa do Czar os marinheiros se reuniram aos manifestantes protestando contra os castigos corporais que sofriam e contra a péssima alimentação que recebiam. A reação dos marinheiros ficou celebrizada na sublevação dos tripulantes do Couraçado Potemkim.
O Couraçado Potemkim |
-o caráter pacifista até então
predominante, foi substituído por atos de violência contra as forças do regime;
-as manifestações até então em São
Petersburgo estenderam a outras cidades, ganhando assim maior intensidade.
Esse quadro convenceu o governo
da necessidade de negociar. O primeiro passo se deu com a assinatura, em
setembro, do Tratado de Portsmouth com o Japão, que pôs termo a guerra entre os
dois países. No mês seguinte Nicolau II encaminhou uma proposta de reforma
política através do Manifesto de Outubro. Essa proposta resultou na instalação
de uma Duma Constituinte, eleita pelo voto censitário, para dar a
forma jurídica à monarquia constitucional. Essa reforma, atendia as
expectativas da burguesia liberal, mas, estava distante daquilo que as classes
populares pleiteavam, por não apontar para reformas sociais.
Segundo Lênin, líder da
facção Bolchevique, a Revolução de 1905, do ponto de vista popular, se traduziu
na organização dos Sovietes, comitês populares formados por operários, camponeses
e soldados, que se constituíram no núcleo de articulação da Revolução
Socialista de outubro de 1917.
Esse evento revolucionário foi responsável pelo afastamento do Czar Nicolau II do trono e pela queda da Monarquia. Essa revolução foi liderada pela burguesia liberal, organizada no Partido KDT e majoritária na Duma Legislativa, que considerou o quadro político e econômico da Rússia muito propício para a ocorrência de uma revolução popular, e aí ela tomou a iniciativa de fazê-la.
A CONJUNTURA
POLÍTICA E ECONÔMICA RUSSA EM 1917
Em 1917 a Rússia atravessava um período de grandes perdas econômicas e
humanas em decorrência da Primeira Guerra Mundial, na qual os russos ingressaram
desde o seu início em apoio aos sérvios, contra o Império Austro Húngaro, em
nome do Pan Eslavismo.
A fragilidade econômica e militar da
Rússia ficou muito evidente com os mais de 4 milhões de mortos nos campos de
combate e de alguns milhares vítimas da fome provocada pelo desabastecimento.
Em meio a essa turbulência
sucederam-se as manifestações populares, organizadas nos Sovietes e
traduzidas em greves e frequentes passeatas. Foi isso que mostrou à burguesia
o risco de uma revolução popular. Assim, os setores liberais entenderam que
“se eles não fizessem a revolução, o povo a faria”.
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Com a deposição
do Czar Nicolau II, formou-se um governo Provisório de coalizão constituído pela
burguesia e pelos menchevistas, segmento da esquerda que admitia uma aliança
com a burguesia. Os menchevistas estavam representados no governo pelo ministro
Alexander Kerensky.
O governo provisório promoveu reformas políticas como:
- voto universal;
- legalização dos partidos;
- a lei da anistia para exilados e presos políticos;
- as leis sociais.
Entretanto, ignorou as
reformas sociais e não retirou a Rússia da Guerra, atendendo aos interesses da
burguesia produtora de armas e de munições. A atitude vacilante do governo e o
retorno das lideranças bolchevistas foram fundamentais para a Revolução de 25
de outubro.
A Revolução Bolchevista de Outubro de 1917
Em 25 de outubro de 1917
levantando a bandeira “todo o poder aos sovietes”, os bolchevistas
liderados por Lênin, Trotsky entre outros, levaram os trabalhadores às ruas e
derrubaram o governo provisório, que não ofereceu resistência. Daí o fato de no
dia seguinte ter sido instalado o governo dos Comissários do Povo, cujas
primeiras decisões se orientavam nas Teses de Abril e o no programa
Bolchevique.
Lênin em seu retorno à Rússia (abril de 1917) |
AS TESES DE ABRIL
Com a anistia concedida pelo governo provisório, Lenin que estava no exílio
na Suiça, voltou à Rússia. Ao retornar publicou as Teses de Abril em que
apresentava as prioridades do povo russo, que uma revolução deveria
considerar. Lênin as traduziu na trilogia: PAZ, TERRA E PÃO (tirar a Rússia
da Guerra, entregar a terra ao camponês e combater a fome).
O PROGRAMA BOLCHEVIQUE
Sob a liderança de Lênin, os
bolcheviques definiram as diretrizes de uma revolução popular:
-
coletivização dos meios de produção, a partir de uma expropriação total;
-
entrega da terra aos camponeses;
-
entrega das fábricas aos operários;
-
nacionalização dos capitais estrangeiros na Rússia;
-
confisco da dívida externa;
-
soberania para as nacionalidades dominadas pelo Império Russo.
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De modo a garantir a execução das mudanças, o
governo bolchevique criou o Exército Vermelho para enfrentar as reações
externas e a polícia política, a Tcheca, para combater a resistência interna.
Em 1918, com o fim da
Primeira Guerra, as atenções do Ocidente se voltaram para a Rússia. Desse modo,
as forças ocidentais adotaram duas estratégias contra os bolcheviques: uma
promover o isolamento (cordão sanitário), outra apoiar os
contrarrevolucionários (russos brancos) na guerra civil que se
instalou no país neste mesmo ano.
A guerra civil, mesmo com o
triunfo da Revolução (russos vermelhos), deixou um quadro de
gravíssimas proporções. A fome teve seu quadro agravado, os setores produtivos
flagrantemente estavam estagnados ou até mesmo paralisados, provocando o
desabastecimento. Se não bastassem esses números, a Rússia Bolchevista ainda
enfrentava uma escassez de recursos financeiros para promover uma rápida
reconversão econômica. Para tornar o quadro mais preocupante, os camponeses
davam sinais de insatisfação com o regime de requisição da produção, que havia
sido usado na guerra civil e estava mantido.
A REVOLTA
DO KRONSTADT DE 1921
Essa revolta, ocorrida na Base militar do Kronstadt, expressou a insatisfação
do campesinato com a política das requisições. O camponês aceitou entregar ao
Estado a totalidade da sua produção durante a Guerra Civil, compreendendo a
estratégia bolchevique de promover uma distribuição igualitária e assim
construir uma aliança que enfrentasse e vencesse os russos brancos.
Entretanto, com o término da Guerra
Civil os camponeses manifestaram-se contra a continuidade das requisições e
reagiram diminuindo a produção. Essa atitude colocava em risco todo o projeto
da Revolução. Isso exigiu de Lênin medidas emergenciais e eficazes, que se
traduziram na Nova Economia Política (N.E.P.)
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1921-1928 – A Nova Economia Política (NEP)
O quadro econômico, após a guerra civil, levou o governo Lênin a
promover uma mudança na ordem econômica russa, segundo ele a hora exigia dar
um passo atrás. Desse modo a Rússia, para recuperar o setor
secundário, buscou atrair capitais externos para o setor, embora só
admitindo-os na produção de bens de consumo, os setores de base ficariam sob
controle do Estado. Além disso, Lênin autorizou o camponês a utilizar até 90%
daquilo que produzia, da forma que melhor lhe aprouvesse. A NEP também trouxe
de volta a desigualdade salarial, que havia sido suprimida durante
a guerra civil, como também autorizou os camponeses a transferirem o direito de
uso da terra para terceiros. Essa decisão fez ressurgir a figura dos grandes
proprietários de terras (kulaks ou culaques). Mas, os números
alcançados no período mostraram a eficácia da nova política econômica.
Entretanto, nesse período os
russos sofreram um grande revés, a morte de Lênin em 1924. A perda do líder
bolchevista criou na Rússia uma disputa pelo poder entre dois outros líderes:
Joseph Stalin Secretário Geral do Partido Comunista e grande responsável pela
construção da URSS em 1922 e Leon Trotsky ideólogo, historiador da revolução e
comandante do Exército Vermelho na Guerra Civil.
(1924-1928) A QUEDA DE BRAÇOS ENTRE STALIN E TROTSKY
A disputa entre Trotsky e Stalin ia além da simples disputa pelo controle da URSS, eles tinham posições conflitantes também em relação aos rumos do socialismo e da própria revolução.
Trotsky
defendia a revolução permanente e entendia que a consolidação do socialismo
estaria diretamente relacionada à sua expansão pelo mundo. Para ele cabia a
URSS apoiar esse processo.
Stalin
ao contrário de Trotsky defendia uma consolidação do socialismo na URSS, para
posteriormente promover a sua expansão. Daí ter sido criada a expressão de
socialismo num só país.
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1928-1953 – O Stalinismo
Depois de uma intensa disputa com Trotsky,
Stalin, que já ocupava o poder desde 1924, teve a oportunidade de instituir um
regime centralizado, intolerante, repressor, violento e militarista na
URSS.
Stalin promoveu uma depuração no Partido Comunista, que resultou em
expurgos, prisões e execuções. Entre os que sofreram com a intolerância de Stalin
estava Trotsky, este, sofreu o expurgo e mesmo estando no exílio no México não
escapou do braço stalinista, que o executou.
Estima-se que o stalinismo tenha sido responsável por milhões de mortes e pela prisão de milhares de pessoas colocadas nos campos de trabalhos forçados na Sibéria.
Estima-se que o stalinismo tenha sido responsável por milhões de mortes e pela prisão de milhares de pessoas colocadas nos campos de trabalhos forçados na Sibéria.
IMAGEM DE PRISIONEIROS NO GULAG |
Por outro lado a stalinização foi responsável por importantes conquistas no campo econômico e social e transformou a URSS numa superpotência após a Segunda Guerra Mundial, nos tempos da Guerra Fria.
O Stalinismo também foi
responsável pela expansão do modelo soviético para o Leste Europeu após a
Segunda Guerra Mundial. Essa expansão resultou da negociação entre Stalin e
Roosevelt na Conferência de Yalta de fevereiro de 1945, em que ficou acordado
entre os líderes, que os territórios que haviam sido libertados do domínio
nazista pelos comunistas e pelo Exército Vermelho ficariam sob a coordenação
política de Moscou na formação de novos governos. Daí a instalação de
governos pró Moscou e, em sua maioria, submissos à sovietização, por
conseguinte satélites da URSS. Nesse contexto não se inclui a (ex) Iugoslávia
e a Albânia.
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O STALINISMO NO CAMPO ECONÔMICO
- planificação econômica (definição pelo
Estado das metas, dos prazos, do volume de investimento e contingente de
trabalhadores a serem utilizados);
- planos quinquenais. Fruto da planificação eles definiam metas a serem alcançadas em 05 anos. Os planos quinquenais deram particular ênfase aos setores de base, da infraestrutura, essenciais e pesados;
- coletivização da terra através dos Kolkhozes
e dos Sovkhozes;
-
desenvolvimento da indústria de armamentos e munições, em razão da pressão
exercida pela Segunda Guerra Mundial e posteriormente pela Guerra Fria.
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