sábado, 29 de julho de 2017

Unidade XVII: A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

A Primeira Guerra Mundial (1914-18)

                            
                             UMA CONSIDERAÇÃO INICIAL SOBRE A PRIMEIRA GUERRA         
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A Belle-Époque
     Em 1914 quando teve início a Primeira Guerra Mundial, o mundo girava em torno da Europa. O Velho Continente era, com certeza, o centro do mundo. De lá saía a maioria dos produtos industrializados que abasteciam o mundo, assim como a maior parte dos capitais transferidos para a áfrica, a Ásia e América Latina.
    Entretanto, os europeus acharam que deveriam fazer a guerra, convencidos que era o caminho para assegurar a paz. Preferiram-na à diplomacia. Ao término do conflito em 1918, incontáveis perdas humanas, estimadas em 20 milhões, perdas econômicas e a destruição de importantes cidades era o quadro da Europa. O eurocentrismo recuou. A Europa saiu da guerra com um endividamento contraído com os Estados Unidos da América da ordem de 11 bilhões de dólares e enfrentou nos anos subsequentes uma elevada taxa inflacionária e um índice de desemprego alarmante. O mundo virou de ponta cabeça. O declínio da Europa fez emergir um novo centro econômico, Os Estados Unidos da América a nova meca do capitalismo no século XX.


Causas gerais

a) As rivalidades interimperialistas, a formação de alianças e a Paz Armada
      A partilha do continente africano gerou um quadro de rivalidades entre as forças colonialistas como foram os casos que envolveram franceses e italianos na Tunísia, franceses e alemães no Marrocos e ingleses e holandeses no Sul da África na conhecida Guerra dos Böers. Essas rivalidades contribuíram para a formação das alianças como a germano italiana e a Entente Cordiale entre ingleses e franceses. Não se pode ignorar o revanchismo francês em relação aos alemães, decorrente da derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana de 1870/71, na qual perderam a região da Alsácia e Lorena para os alemães.
     Essas alianças, mais tarde ampliadas contribuíram para a corrida armamentista, que caracterizou a Paz Armada, denominação dada à conjuntura que precedeu a I Guerra Mundial;

                                      
                           OS ATRITOS INTERIMPERIALISTAS NA ÁFRICA

(1881) O atrito ítalo-francês na Tunísia decorreu da intervenção militar francesa, em apoio ao governo tunisiano no combate aos rebeldes nacionalistas. Os italianos protestaram contra a intervenção, porque, até então, a Tunísia era uma área de investimentos italianos. A situação não foi suficiente para provocar um conflito entre as duas nações, mas afetou as relações bilaterais. A situação contribuiu para a formação da aliança Ítalo-Germânica, ponto de partida para a criação da Tríplice Aliança, com o ingresso do Império Austro-Húngaro.

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A Guerra dos Böers
    
(1899/1900) O conflito entre os colonos ingleses e os colonos holandeses, a Guerra dos Böers. Esse conflito foi decorrente do interesse dos ingleses, que ocupavam a colônia do Cabo sobre os territórios do Transvaal e do Orange ocupados pelos Böers. Esse interesse motivou uma ofensiva britânica, liderada pelo governador Cecil  Rhodes, em retaliação à negativa do governador holandês Paul Kügger em permitir a presença dos ingleses na extração mineral. A vitória dos britânicos estabeleceu o domínio inglês sobre todo o Sul da África (União Sul-Africana).
    
(1904/11) O atrito entre a França e Alemanha no Marrocos. Esse episódio mesmo tendo uma solução política, foi responsável pelo aumento da tensão nas relações franco-alemãs. Esse incidente teve início com a intervenção militar francesa em apoio ao governo marroquino contra os rebeldes nacionalistas. A Alemanha reagiu a intervenção, criticando a França e oferecendo ajuda material e financeira aos rebeldes.
     Essa situação contribuiu para a formação da Entente Cordiale, uma aliança apresentada como defensiva pelos franceses e ingleses, contra o expansionismo alemão. Esse atrito no Marrocos teve uma solução política, na qual pela cessão de parte do Congo Francês aos alemães, estes pararam de financiar os rebeldes nacionalistas.


b) As rivalidades nacionais na região balcânica

     A região Balcânica, considerada à época um barril de pólvora, justificou esse título em razão das rivalidades existentes entre sérvios e austro-húngaros ou aquela envolvendo os povos eslavos e os germânicos, rivalidade esta geradora de dois blocos: um liderado pelos russos, o Paneslavismo e outro liderado pelos alemães, o pangermanismo. Essas rivalidades açodaram os ânimos na região e foram responsáveis pelo episódio considerado como causa direta da guerra, o atentado de Sarajevo de 28 de junho de 1914, que vitimou o príncipe austríaco Franz Ferdinand, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro.

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 Outra rivalidade que contribuiu para o quadro de tensão internacional foi aquela entre os russos e os turcos otomanos. Neste caso o problema envolvia a região dos Estreitos de Bósforo e o de Dardanelos controlados pelo Império Otomano, considerados pelos russos como estratégicos na passagem do Mar Negro para o Mar Mediterrâneo. 
     Segundo os Otomanos havia uma pretensão do Império Russo de ocupar a região para dominá-la. Daí a aproximação entre os Otomanos e o II Reich (2º Império Alemão), que gerou nos alemães o interesse em construir uma ferrovia (Berlim-Bagdá) para poderem acessar o Oriente Médio, para explorá-lo conforme a autorização concedida pelos otomanos no acordo bilateral entre os dois impérios.
     A construção da ferrovia se traduziria na presença alemã na região dos Estreitos, seguramente provocando uma inquietação nos russos. Assim se explica o fato do Império Czarista ter buscado construir uma aliança com dois tradicionais rivais dos russos, mas também preocupados com o crescimento alemão, os ingleses e os franceses. Surgia desse modo a Tríplice Entente.

c) As etapas do conflito

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     Em 28 de junho de 1914 na cidade de Sarajevo, na Bósnia, ocorreu o fato deflagrador da Primeira Guerra Mundial, o assassinato do príncipe herdeiro da Áustria Franz Ferdinand e sua esposa Sofia, atentado praticado pelo bósnio Gravilo Princip. O herdeiro austríaco visitava a cidade, que estava submetida a dominação austro-húngara o que fomentava os  movimentos nacionalistas e anti austríacos na região, patrocinados pelo governo da Sérvia e Montenegro, que financiava a organização nacionalista Mão Negra, responsável pelos freqüentes atentados contra os austríacos. Daí o governo de Viena: ter responsabilizado o governo de Belgrado (Sérvia) pelo episódio, ter feito exigências, que não foram cumpridas pelos sérvios e, por último em julho, ter declarado guerra à Sérvia e Montenegro.

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Imediatamente os russos, em nome do pan eslavismo, declararam apoio aos sérvios contra os austríacos. Em seguida foi a vez dos alemães fazerem o mesmo em relação aos austríacos contra os sérvios e montenegrinos. A partir daí, os alemães puseram em execução um plano expansionista (Plano Schlieffen), que estava pronto para ser acionado.
     O período que inclui os anos 1914 e 1915 é denominado de Guerra de Movimento e foi marcado pela distensão das forças alemãs associadas ao Império Austro-Húngaro, ao Império Turco Otomano e ao Estado Búlgaro.
     Nesse período se destaca o ingresso da Itália nas forças da Entente, assim denominados os países liderados pelos ingleses e franceses, sob a promessa britânica de participar da partilha das colônias alemãs após o conflito e também empenhada em recuperar o território da Itália Irridenta (Trieste, Trentino, Trento), ainda sob domínio do Império Austro-Húngaro.

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  O período subsequente (1916/17) denominado Guerra de Trincheiras, foi marcado pela manutenção das posições anteriormente alcançadas tanto pelos países centrais (liderados pela Alemanha) como pelos da Entente. Essa fase também ficou marcada pelo ingresso, dos até então neutros, Estados Unidos da América e pela decisão do governo revolucionário russo de celebrar a paz com os alemães.


                               
                                                  
                                  O ingresso dos Estados Unidos
    
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A decisão do governo de Washington de ingressar na guerra foi oficialmente justificada pelo ataque alemão ao navio civil norte americano em Águas europeias.
     Entretanto, a decisão está associada ao fato de os Estados Unidos serem os maiores credores dos países da Entente e temerem pelo não pagamento das dívidas, em caso de uma derrota frente aos Países Centrais.



                                                   
                                               A saída da Rússia
           
     Esta decisão está entre as primeiras tomadas pelo governo dos comissários do povo liderado por Lênin instalado após a vitória da Revolução Bolchevista em 25 de outubro de 1917 sobre o governo provisório composto por uma coligação entre os liberais e os menchevistas.
     Para os bolchevistas a guerra provocava perdas humanas e econômicas incontáveis e era preciso estancá-las. Além disso, para Lênin a guerra era um evento capitalista de interesse dos donos de capital, logo sem nenhum interesse da classe proletária, cujo governo russo representava.
     A saída dos russos se oficializou em fevereiro de 1918 com a assinatura do Tratado de Brest-Litovsk com o governo alemão, que impôs perdas territoriais e financeiras aos russos.


     O ano de 1918 marcou o fim do conflito com a rendição dos Países Centrais. A Alemanha foi a última a admitir a rendição e esta decisão coube ao novo governo alemão da República de Weimar, instalado após a renúncia do Kaiser Guilherme e a queda do II Império (1871/1918).

d) Os tratados de paz

     Em 1919 os países vencedores da guerra promoveram uma conferência em Paris em que definiram as linhas dos tratados que seriam impostos aos perdedores. Desse encontro foram excluídos os perdedores, considerados responsáveis pela guerra, e a Rússia, esta sob alegação de já ter assinado um tratado de paz em separado. Entretanto, não foi difícil perceber que a exclusão dos russos era de cunho ideológico, pelo fato de terem rompido com o capitalismo através da Revolução Bolchevista de 25 de outubro de 1917.
     Nessa conferência, os Estados Unidos apresentaram uma proposta de paz denominada Quatorze Pontos de Wilson em que apontavam caminhos para se alcançar uma paz duradoura no mundo e em particular na Europa.

                                                               
                                          Quatorze Pontos de Wilson

1º) Convenção de paz preparadas à luz do dia, excluindo acordos particulares e secretos;
2º) liberdade absoluta da navegação marítima em tempos de paz;
3º) supressão das barreiras econômicas e comerciais;
4º) redução dos armamentos ao mínimo necessário à segurança interna;
5º) debate da questão colonial entre representantes dos governos imperialistas e dos representantes coloniais com pesos iguais;
6º) evacuação de todo território russo e incentivo à cooperação de todas as nações do mundo com a Rússia;
7º) evacuação da Bélgica sem qualquer ameaça a sua soberania, da mesma forma que todas as outras nações livres;
8º) libertação de todo o território francês e a devolução da Alsácia-Lorena para que a paz possa ser assegurada;
9º) retificação das fronteiras italianas com base no princípio das nacionalidades;
10º) autonomia para os povos da Áustria-Hungria;
11º) Romênia, Sérvia e Montenegro deverão ser evacuados e seus territórios restaurados. A Sérvia deverá ter assegurado o livre acesso ao mar
;12º) autonomia e segurança para as regiões turcas do Império Otomano. A mesma condição deverá se estender às nações sob domínio turco. Dardanelos ficarão abertos para a livre navegação de todas as nações;
13º) criação de um Estado independente polonês constituído por territórios habitados pelos  poloneses com livre acesso ao mar;
14º) criação de associação geral das nações para oferecer garantias mútuas de independência política e de integridade territorial para todas nações.  

     Com base na proposta norte americana e na Paz dos Vencedores (conceito de paz formulado pelos vencedores sem participação dos perdedores), foram redigidos os tratados de paz:

- Tratado de Saint’Germain assinado pela Áustria;
- Tratado de Triannon assinado pela Hungria;
- Tratado de Neuilly assinado pela Bulgária;
- Tratados de Sevrès e de Lausanne assinados pela Turquia;
- Tratado de Versalhes assinado pela Alemanha.

     Os tratados tiveram em comum a aplicação de penalidades territoriais, econômicas e financeiras aos perdedores. Destaca-se o fato de a Alemanha ter sido considerada como principal causadora da Guerra o que lhe custou sofrer as maiores penalidades tanto financeiras, quanto econômicas e territoriais.

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A Europa após a Primeira Guerra Mundial
     Pelo Tratado de Versalhes a Alemanha devolveu a Alsácia-Lorena aos franceses e cedeu aos poloneses a região do porto de Dantzig (Corredor Polonês) no mar Báltico; ficou proibida de ter indústrias bélicas; teve seu efetivo militar reduzido ao número máximo de 100 mil homens; cedeu temporariamente aos franceses o direito de exploração da região do Sarre e ficou proibida de instalar soldados na região da Renânia, classificada como zona desmilitarizada.




                                     
                         POR QUE OS TURCOS ASSINARAM DOIS TRATADOS?
    
   O fato dos  turcos assinarem dois tratados deveu-se a ocorrência de intenso movimento nacionalista, o dos Jovens Turcos sob a liderança de Mustafá Kemmal, em protesto contra as penalidades impostas pelo primeiro tratado, o de Sevrès. O que exigiu a elaboração de um  segundo tratado, o de Lausanne que amenizou as penalidades territoriais aplicadas aos turcos, cujo resultado foi o de paralisar as manifestações nacionalistas.





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 O GENOCÍDIO ARMÊNIO   
      Em 24 de abril de 1915 cerca de 600 líderes armênios foram presos pelas autoridades Otomanas e posteriormente mortos. Esse episódio, conhecido como o Domingo Vermelho, simboliza o processo de extermínio dos armênios em território turco otomano.
    Em tese o fato deflagrador da perseguição aos armênios na Turquia, deveu-se a derrota sofrida pelos turcos na Primeira Guerra Mundial frente aos russos em novembro de 1914, que foi atribuída pelo comandante militar turco Enver Paxá aos armênios, acusando-os de terem se reunido aos russos, traindo os turcos.
     O processo teve início com a publicação do  Decreto de fevereiro de 1915, que determinou o desarmamento dos armênios na Turquia, o afastamento deles do Exército turco e a inscrição no Batalhão Trabalhista. O argumento para desarmá-los era evitar uma possível colaboração com os russos.
     Após o episódio do Domingo Vermelho, foi publicada a lei da Deportação dos armênios e Confisco de seus bens “por abandono”. Há uma estimativa, que aponta para cerca de 1.500.000 armênios mortos no extermínio. Os armênios foram mortos vítimas de determinados procedimentos como: afogamentos, incêndios, agentes químicos e biológicos, overdose de morfina e inoculação do tifo. Milhares de armênios morreram vítimas da fome e da brutalidade praticada por militares turcos que os acompanhavam na deportação pelo deserto da Síria.

e) Os efeitos econômicos, políticos e ideológicos da 1ª Guerra na Europa.

      A Primeira Guerra Mundial deixou um conjunto de mudanças na ordem política, econômica e ideológica no velho continente:
- no plano econômico o conflito provocou o declínio europeu, o fim da Belle Èpoque, em razão dos elevadíssimos custos da guerra, das perdas humanas e econômicas, que geraram o alto endividamento com os Estados Unidos, estes transformados no novo centro do capitalismo ocidental. Além disso, a Europa enfrentou uma espiral inflacionária sem precedentes e um expressivo crescimento do desemprego:
- no plano político a guerra produziu uma tendência de formação de governos autoritários,  representada na emergência de grupos da extrema direita apoiada pelos setores da alta burguesia e da classe média. Essa tendência concretizou-se na Itália com o Fascismo de Mussolini, na Alemanha com o Nazismo de Hitler e em Portugal e na Espanha com o Salazarismo e o Franquismo respectivamente;

- no campo ideológico, fomentado pelo desemprego e inspirado na Revolução Bolchevique cresceu o movimento operário através dos sindicatos e dos partidos de esquerda. A mobilização operária por meio de greves e passeatas criou nos setores burgueses o medo do avanço do comunismo e por isso esses setores sociais não vacilaram em apoiar os grupos da extrema direita fascista. Mesmo reconhecendo o fascismo como uma solução antidemocrática e antiliberal, a burguesia, assim como a classe média, tinha a compreensão que ele não ameaçava a sua propriedade como ocorria com o comunismo.

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