A Primeira Guerra Mundial (1914-18)
UMA CONSIDERAÇÃO INICIAL SOBRE A PRIMEIRA GUERRA
Em 1914 quando teve início a
Primeira Guerra Mundial, o mundo girava em torno da Europa. O Velho
Continente era, com certeza, o centro do mundo. De lá saía a maioria dos
produtos industrializados que abasteciam o mundo, assim como a maior parte
dos capitais transferidos para a áfrica, a Ásia e América Latina.
Entretanto, os europeus acharam que
deveriam fazer a guerra, convencidos que era o caminho para assegurar a paz. Preferiram-na à diplomacia. Ao término do conflito em 1918,
incontáveis perdas humanas, estimadas em 20 milhões, perdas econômicas e a
destruição de importantes cidades era o quadro da Europa. O eurocentrismo
recuou. A Europa saiu da guerra com um endividamento contraído com os Estados
Unidos da América da ordem de 11 bilhões de dólares e enfrentou nos anos
subsequentes uma elevada taxa inflacionária e um índice de desemprego
alarmante. O mundo virou de ponta cabeça. O declínio da Europa fez emergir um
novo centro econômico, Os Estados Unidos da América a nova meca do
capitalismo no século XX.
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Causas gerais
a) As rivalidades interimperialistas, a formação de alianças e a Paz Armada
A partilha do continente africano gerou
um quadro de rivalidades entre as forças colonialistas como foram os casos que
envolveram franceses e italianos na Tunísia, franceses e
alemães no Marrocos e ingleses e holandeses no Sul da África na
conhecida Guerra dos Böers. Essas rivalidades
contribuíram para a formação das alianças como a germano italiana e
a Entente Cordiale entre ingleses e franceses. Não se pode
ignorar o revanchismo francês em relação aos alemães,
decorrente da derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana de 1870/71, na qual
perderam a região da Alsácia e Lorena para os alemães.
Essas alianças, mais tarde
ampliadas contribuíram para a corrida armamentista, que caracterizou a Paz
Armada, denominação dada à conjuntura que precedeu a I Guerra Mundial;
OS ATRITOS INTERIMPERIALISTAS
NA ÁFRICA
(1881) O atrito ítalo-francês na Tunísia decorreu da intervenção militar francesa, em apoio ao governo tunisiano no combate aos rebeldes nacionalistas. Os italianos protestaram contra a intervenção, porque, até então, a Tunísia era uma área de investimentos italianos. A situação não foi suficiente para provocar um conflito entre as duas nações, mas afetou as relações bilaterais. A situação contribuiu para a formação da aliança Ítalo-Germânica, ponto de partida para a criação da Tríplice Aliança, com o ingresso do Império Austro-Húngaro.
(1899/1900) O conflito entre os colonos ingleses
e os colonos holandeses, a Guerra dos Böers. Esse conflito foi decorrente do
interesse dos ingleses, que ocupavam a colônia do Cabo sobre os territórios
do Transvaal e do Orange ocupados pelos Böers. Esse interesse motivou uma
ofensiva britânica, liderada pelo governador Cecil Rhodes, em
retaliação à negativa do governador holandês Paul Kügger em permitir a
presença dos ingleses na extração mineral. A vitória dos britânicos
estabeleceu o domínio inglês sobre todo o Sul da África (União Sul-Africana).
(1904/11) O atrito entre a França e Alemanha no
Marrocos. Esse episódio mesmo tendo uma solução política, foi responsável
pelo aumento da tensão nas relações franco-alemãs. Esse incidente teve início
com a intervenção militar francesa em apoio ao governo marroquino contra os
rebeldes nacionalistas. A Alemanha reagiu a intervenção, criticando a França
e oferecendo ajuda material e financeira aos rebeldes.
Essa situação contribuiu
para a formação da Entente Cordiale, uma aliança apresentada como defensiva
pelos franceses e ingleses, contra o expansionismo alemão. Esse atrito no
Marrocos teve uma solução política, na qual pela cessão de parte do Congo
Francês aos alemães, estes pararam de financiar os rebeldes nacionalistas.
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b) As rivalidades nacionais na região balcânica
A região Balcânica, considerada à época um
barril de pólvora, justificou esse título em razão das rivalidades existentes
entre sérvios e austro-húngaros ou aquela envolvendo os povos
eslavos e os germânicos, rivalidade esta geradora de dois blocos: um liderado
pelos russos, o Paneslavismo e outro liderado pelos alemães, o
pangermanismo. Essas rivalidades açodaram os ânimos na região e foram
responsáveis pelo episódio considerado como causa direta da guerra, o
atentado de Sarajevo de 28 de junho de 1914, que vitimou o príncipe
austríaco Franz Ferdinand, herdeiro do trono do Império
Austro-Húngaro.
Segundo os Otomanos havia uma
pretensão do Império Russo de ocupar a região para dominá-la. Daí a aproximação
entre os Otomanos e o II Reich (2º Império Alemão), que gerou nos alemães o
interesse em construir uma ferrovia (Berlim-Bagdá) para poderem
acessar o Oriente Médio, para explorá-lo conforme a autorização concedida pelos
otomanos no acordo bilateral entre os dois impérios.
A construção da ferrovia se
traduziria na presença alemã na região dos Estreitos, seguramente provocando
uma inquietação nos russos. Assim se explica o fato do Império Czarista ter
buscado construir uma aliança com dois tradicionais rivais dos russos, mas
também preocupados com o crescimento alemão, os ingleses e os franceses. Surgia
desse modo a Tríplice Entente.
c) As etapas do conflito
Em 28 de junho de 1914 na
cidade de Sarajevo, na Bósnia, ocorreu o fato deflagrador da Primeira Guerra
Mundial, o assassinato do príncipe herdeiro da Áustria Franz Ferdinand e sua
esposa Sofia, atentado praticado pelo bósnio Gravilo Princip. O herdeiro
austríaco visitava a cidade, que estava submetida a dominação austro-húngara o
que fomentava os movimentos nacionalistas e anti austríacos na região,
patrocinados pelo governo da Sérvia e Montenegro, que financiava a organização
nacionalista Mão Negra, responsável pelos freqüentes atentados
contra os austríacos. Daí o governo de Viena: ter responsabilizado o governo de
Belgrado (Sérvia) pelo episódio, ter feito exigências, que não foram cumpridas
pelos sérvios e, por último em julho, ter declarado guerra à Sérvia e
Montenegro.
Imediatamente os russos, em nome do pan eslavismo, declararam apoio aos sérvios contra os austríacos. Em seguida foi a vez dos alemães fazerem o mesmo em relação aos austríacos contra os sérvios e montenegrinos. A partir daí, os alemães puseram em execução um plano expansionista (Plano Schlieffen), que estava pronto para ser acionado.
O período que inclui os anos 1914 e 1915 é
denominado de Guerra de Movimento e foi marcado pela distensão das forças
alemãs associadas ao Império Austro-Húngaro, ao Império Turco Otomano e ao
Estado Búlgaro.
Nesse período se destaca o
ingresso da Itália nas forças da Entente, assim denominados os países liderados
pelos ingleses e franceses, sob a promessa britânica de participar da partilha
das colônias alemãs após o conflito e também empenhada em recuperar o
território da Itália Irridenta (Trieste, Trentino, Trento), ainda sob domínio
do Império Austro-Húngaro.
O ingresso dos Estados Unidos A decisão do governo de Washington de ingressar na guerra foi oficialmente justificada pelo ataque alemão ao navio civil norte americano em Águas europeias.
Entretanto,
a decisão está associada ao fato de os Estados Unidos serem os maiores
credores dos países da Entente e temerem pelo não pagamento das dívidas, em
caso de uma derrota frente aos Países Centrais.
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A saída da Rússia Esta decisão está entre as primeiras tomadas pelo governo dos comissários do povo liderado por Lênin instalado após a vitória da Revolução Bolchevista em 25 de outubro de 1917 sobre o governo provisório composto por uma coligação entre os liberais e os menchevistas.
Para
os bolchevistas a guerra provocava perdas humanas e econômicas incontáveis e
era preciso estancá-las. Além disso, para Lênin a guerra era um evento
capitalista de interesse dos donos de capital, logo sem nenhum interesse da
classe proletária, cujo governo russo representava.
A
saída dos russos se oficializou em fevereiro de 1918 com a assinatura do
Tratado de Brest-Litovsk com o governo alemão, que impôs perdas territoriais
e financeiras aos russos.
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O ano de 1918 marcou o fim do
conflito com a rendição dos Países Centrais. A Alemanha foi a última a admitir
a rendição e esta decisão coube ao novo governo alemão da República de Weimar,
instalado após a renúncia do Kaiser Guilherme e a queda do II Império
(1871/1918).
d) Os tratados de paz
Em 1919 os países vencedores da guerra
promoveram uma conferência em Paris em que definiram as linhas dos tratados que
seriam impostos aos perdedores. Desse encontro foram excluídos os perdedores,
considerados responsáveis pela guerra, e a Rússia, esta sob alegação de já ter
assinado um tratado de paz em separado. Entretanto, não foi difícil perceber
que a exclusão dos russos era de cunho ideológico, pelo fato de terem rompido
com o capitalismo através da Revolução Bolchevista de 25 de outubro de 1917.
Nessa conferência, os Estados
Unidos apresentaram uma proposta de paz denominada Quatorze Pontos de Wilson em
que apontavam caminhos para se alcançar uma paz duradoura no mundo e em
particular na Europa.
Quatorze Pontos de Wilson
1º) Convenção de paz preparadas à luz do dia, excluindo acordos particulares e secretos;
2º)
liberdade absoluta da navegação marítima em tempos de paz;
3º)
supressão das barreiras econômicas e comerciais;
4º)
redução dos armamentos ao mínimo necessário à segurança interna;
5º)
debate da questão colonial entre representantes dos governos imperialistas e
dos representantes coloniais com pesos iguais;
6º)
evacuação de todo território russo e incentivo à cooperação de todas as nações
do mundo com a Rússia;
7º)
evacuação da Bélgica sem qualquer ameaça a sua soberania, da mesma forma que
todas as outras nações livres;
8º)
libertação de todo o território francês e a devolução da Alsácia-Lorena para
que a paz possa ser assegurada;
9º)
retificação das fronteiras italianas com base no princípio das
nacionalidades;
10º)
autonomia para os povos da Áustria-Hungria;
11º)
Romênia, Sérvia e Montenegro deverão ser evacuados e seus territórios
restaurados. A Sérvia deverá ter assegurado o livre acesso ao mar
;12º)
autonomia e segurança para as regiões turcas do Império Otomano. A mesma
condição deverá se estender às nações sob domínio turco. Dardanelos ficarão
abertos para a livre navegação de todas as nações;
13º)
criação de um Estado independente polonês constituído por territórios
habitados pelos poloneses com livre acesso ao mar;
14º)
criação de associação geral das nações para oferecer garantias mútuas de
independência política e de integridade territorial para todas nações.
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Com base na proposta norte
americana e na Paz dos Vencedores (conceito de paz formulado pelos vencedores
sem participação dos perdedores), foram redigidos os tratados de paz:
- Tratado de Saint’Germain
assinado pela Áustria;
- Tratado de Triannon assinado pela
Hungria;
- Tratado de Neuilly assinado pela
Bulgária;
- Tratados de Sevrès e de Lausanne
assinados pela Turquia;
- Tratado de Versalhes assinado pela
Alemanha.
Os tratados tiveram em comum a aplicação de
penalidades territoriais, econômicas e financeiras aos perdedores. Destaca-se o
fato de a Alemanha ter sido considerada como principal causadora da Guerra o
que lhe custou sofrer as maiores penalidades tanto financeiras, quanto
econômicas e territoriais.
A Europa após a Primeira Guerra Mundial |
Pelo Tratado de Versalhes a Alemanha
devolveu a Alsácia-Lorena aos franceses e cedeu aos poloneses a região do porto
de Dantzig (Corredor Polonês) no mar Báltico; ficou proibida de ter indústrias
bélicas; teve seu efetivo militar reduzido ao número máximo de 100 mil homens;
cedeu temporariamente aos franceses o direito de exploração da região do Sarre
e ficou proibida de instalar soldados na região da Renânia, classificada como
zona desmilitarizada.
POR
QUE OS TURCOS ASSINARAM DOIS TRATADOS?
O
fato dos turcos assinarem dois tratados deveu-se a ocorrência de
intenso movimento nacionalista, o dos Jovens Turcos sob a liderança de
Mustafá Kemmal, em protesto contra as penalidades impostas pelo primeiro
tratado, o de Sevrès. O que exigiu a elaboração de um segundo tratado,
o de Lausanne que amenizou as penalidades territoriais aplicadas aos turcos,
cujo resultado foi o de paralisar as manifestações nacionalistas.
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O GENOCÍDIO ARMÊNIO
Em 24 de abril de 1915 cerca de 600 líderes armênios foram presos pelas
autoridades Otomanas e posteriormente mortos. Esse episódio, conhecido como o
Domingo Vermelho, simboliza o processo de extermínio dos armênios em
território turco otomano.
Em
tese o fato deflagrador da perseguição aos armênios na Turquia, deveu-se a
derrota sofrida pelos turcos na Primeira Guerra Mundial frente aos russos em
novembro de 1914, que foi atribuída pelo comandante militar turco Enver Paxá
aos armênios, acusando-os de terem se reunido aos russos, traindo os turcos.
O processo teve início com a
publicação do Decreto de fevereiro de 1915, que determinou o
desarmamento dos armênios na Turquia, o afastamento deles do Exército turco e
a inscrição no Batalhão Trabalhista. O argumento para desarmá-los era evitar
uma possível colaboração com os russos.
Após o episódio do Domingo Vermelho,
foi publicada a lei da Deportação dos armênios e Confisco de seus bens “por
abandono”. Há uma estimativa, que aponta para cerca de 1.500.000 armênios
mortos no extermínio. Os armênios foram mortos vítimas de determinados
procedimentos como: afogamentos, incêndios, agentes químicos e biológicos,
overdose de morfina e inoculação do tifo. Milhares de armênios
morreram vítimas da fome e da brutalidade praticada por militares turcos que
os acompanhavam na deportação pelo deserto da Síria.
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e) Os efeitos econômicos, políticos e ideológicos da 1ª Guerra na Europa.
A Primeira Guerra Mundial deixou um
conjunto de mudanças na ordem política, econômica e ideológica no velho
continente:
- no plano econômico o conflito provocou o declínio europeu, o fim da
Belle Èpoque, em razão dos elevadíssimos custos da guerra, das perdas humanas e
econômicas, que geraram o alto endividamento com os Estados Unidos, estes
transformados no novo centro do capitalismo ocidental. Além disso, a Europa
enfrentou uma espiral inflacionária sem precedentes e um expressivo crescimento
do desemprego:
- no plano político a guerra produziu uma tendência de formação de
governos autoritários, representada na emergência de grupos da extrema
direita apoiada pelos setores da alta burguesia e da classe média. Essa
tendência concretizou-se na Itália com o Fascismo de Mussolini, na Alemanha com
o Nazismo de Hitler e em Portugal e na Espanha com o Salazarismo e o Franquismo
respectivamente;
- no campo ideológico, fomentado pelo desemprego e inspirado na
Revolução Bolchevique cresceu o movimento operário através dos sindicatos e dos
partidos de esquerda. A mobilização operária por meio de greves e passeatas
criou nos setores burgueses o medo do avanço do comunismo e por isso esses
setores sociais não vacilaram em apoiar os grupos da extrema direita fascista.
Mesmo reconhecendo o fascismo como uma solução antidemocrática e antiliberal, a
burguesia, assim como a classe média, tinha a compreensão que ele não ameaçava
a sua propriedade como ocorria com o comunismo.
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