O IMPERIALISMO E O NEOCOLONIALISMO NO SÉCULO XIX
O processo de dominação
exercida pelos europeus na África e Ásia, dos norte americanos na Ásia, no Caribe e América Central e dos
japoneses na Ásia, deu origem aos modelos neocolonialistas como:
- Colônias de Enraizamento. Nelas o dominador promoveu uma expropriação
quase que total das populações nativas e as transformou em força de trabalho
assalariada nas atividades da extração mineral e na produção agrícola de
exportação. As populações nativas foram instaladas em algumas áreas denominadas
reservas;
- Colônias de Enquadramento. Nelas o colonizador promoveu uma
expropriação parcial dos nativos. Entretanto, também os utilizou como força de
trabalho assalariada;
- Protetorados. Nesse modelo o dominador promove uma intervenção
militar, que se mantém duradoura. No protetorado o interventor não ocupava o
poder nacional, deixando-o nas mãos dos dirigentes locais, mas não permitindo a
plena soberania no exercício dessa autoridade;
- Áreas de Influência. Nelas a dominação não é presencial, o controle se
faz pela dependência econômica e financeira, através de investimentos e de
empréstimos geradores do endividamento.
Nesse processo de dominação
neocolonialista, os europeus se valeram de duas estratégias: a Diplomacia
do Canhão e do Fuzil ou da Canhoneira e a Ação dos
Missionários, representantes das Igrejas do Ocidente, que atuaram como
pontas de lança da ação imperialista e da invasão cultural.
Vale destacar, que no avanço
do europeu sobre o continente africano, ele procurou revestir a ação de
natureza econômica, em que buscava áreas para investimento de capitais na
exploração das reservas minerais e na produção agrícola de exportação com
base na Plantation, numa ação de cunho civilizador, filantrópico, humanitário
sob o argumento de estar alí para promover a civilização das
comunidades tribais, retirá-las do primitivismo e do canibalismo. Como diria Kipling
em seu poema, este era o fardo do homem branco.
A Segunda Revolução Industrial
Com a utilização do petróleo e seus derivados e
da eletricidade como novas fontes de energia e com a descoberta do aço como
matéria prima, por volta de 1850, teve início a segunda revolução industrial.
Com ela desenvolveram-se novas tecnologias, novas máquinas e novos setores da
produção entraram em atividades como: o metalúrgico, o de transporte, o
petroquímico, o elétrico entre outros. A partir daí houve a constituição de grandes
unidades industriais, criação dos trustes e das holdings, ou seja, um
processo de concentração de empresas e/ou de capitais e da formação do
capitalismo industrial e financeiro.
Com essa indiscutível
modernização dos setores produtivos, se impôs a necessidade de obtenção de
novos mercados para a transferência de capitais, que fossem fornecedores
de matérias primas e de energia e também consumidores de produtos
industrializados. Na primeira metade do século XIX, o interesse capitalista
voltou-se para o continente asiático, em particular sobre a China, a Índia e o
Japão.
O break-up da
China (1842-1885)
Ao longo desses pouco mais de quarenta
anos, a China passou por um processo de perdas territoriais, de perda de
soberania, de invasão cultural, que fez desaparecer o gigantesco império que
incluía além da China atual, a Indochina, as Coreias, a Manchúria Russa e a
Ilha de Formosa era o break-up.
Essas perdas decorreram da assinatura de diversos tratados
bilaterais e desiguais, que contemplaram os interesses estrangeiros
sobre o Império. Tratado de Nanquim com os ingleses, Tratado de Pequim
com os franceses, Tratado de Aigum com os russos e Tratado de Shimonoseki com
os japoneses.
A Guerra do Ópio e o início do break-up.
A vitória inglesa deu início ao processo de
perdas territoriais e econômicas sofridas pelo Império e de concessões
políticas atendendo as exigências das forças imperialistas estrangeiras.
Em relação a esta guerra, a
China assinou com os ingleses o Tratado de Nanquim, pelo qual cedeu
a Ilha de Hong Kong (esta ficou sob controle britânico até 1997),
comprometeu-se a abrir portos, admitir a livre circulação de produtos no país e
aceitar o princípio da extraterritorialidade para os cidadãos britânicos.
Em 1860 o Império assinou dois outros
tratados: o de Pequim com os franceses e o de Aigum
com os russos, que implicaram a perda da Indochina para a França e de
parte da Manchúria para os russos. Além disso, atendendo as
exigências francesas, a China abriu outros portos e permitiu a livre circulação
dos missionários pelo país.
Em 1995, após a guerra contra o Japão, os chineses assinaram o Tratado de Shimonoseky no qual perderam o controle da região das atuais Coreias e da Ilha de Formosa.
O movimento
nacionalista chinês
Ao longo do período da
influência estrangeira sobre a China, organizou-se no país um movimento de
resistência formado por alguns setores da sociedade, que elegeu o governo
imperial como seu principal alvo, por considerá-lo corrompido pelos
interesses internacionais e, portanto, conivente com a dominação estrangeira
sobre a China.
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O Protetorado britânico na Índia (1859-1947)
A execução de rebeldes Sipaios |
Em 1857 uma revolta deflagrada pelos Sipaios contra os ingleses, deu a
estes a justificativa para promoverem uma intervenção militar, cujo resultado
foi a criação do protetorado britânico naquele país. Essa revolta manifestou o
descontentamento dos Sipaios com os ingleses, cuja presença na Índia através da
Companhia das Índias Orientais, que era responsável pelo comércio feito entre
os britânicos e os indianos, era vista como uma invasão cultural e os hindus
reclamavam contra o fato dos ingleses não respeitarem o animal sagrado dos
hindus, a Mãe Vaca. Isto porque os ingleses alimentavam-se da carne do animal e
usavam um subproduto, o sebo, para lubrificar suas armas. Os Sipaios hindus,
que atuavam como soldados da Companhia de Comércio Inglesa, manuseavam uma cera
obtida da gordura de origem bovina para a lubrificação dos cartuchos das armas,
que portavam. A Revolta foi sufocada pelo exército britânico, que abriu caminho
para a instalação do protetorado. Havia também entre os Sipaios muçulmanos o
descontentamento pelo fato de os ingleses os obrigarem a manusear uma cera
(para a lubrificação da arma que utilizavam como soldados da Companhia de
Comércio Inglesa) feita da gordura do porco, um animal que os muçulmanos
consideram sujo e se recusam a comer sua carne ou utilizarem produtos derivados
do animal. A Revolta dos Sipaios é considerada por alguns historiadores como
sendo uma primeira luta de independência da Índia e teve na figura de Mangal
Panday a sua principal liderança. Na repressão aos Sipaios, o Reino Unido
capturou e condenou Mangal à morte por enforcamento.
O protetorado é uma forma de
dominação presencial, que o interventor, neste caso o inglês, mantém as
autoridades locais exercendo o poder, mas, sem fazê-lo com a plena soberania. O
Estado do Reino Unido nomeou um Vice Rei para representa-lo na Índia, ele
ficava na região de Deli. Ao mesmo tempo, nos chamados territórios
principescos, os ingleses permitiam que o poder fosse exercido pelos Marajás,
pelos Rajás e pelos Nababos, mas todos subordinados à autoridade do Vice-Rei.
O Japão, um caso particular.
Em 1854 o Japão sofreu uma intervenção promovida pelos norte-americanos,
através de uma esquadra comandada pelo Comodoro Matheus Perry. A presença norte
americana resultou na assinatura do Tratado de Kanasawa, que promoveu a
abertura dos portos japoneses.
Na década de 1860 foi a vez
dos ingleses entrarem no Japão. Os britânicos foram responsáveis por importantes
mudanças na ordem política e econômica naquele país.
Imperador Mutsuhito |
Em parceria com o Micado (imperador), os britânicos esmagaram o Xogunato (regime político em que o Xogum era a maior autoridade apoiado no exército dos samurais) e promoveram a centralização do poder nas mãos do imperador. Além disso, deram todo o apoio financeiro e tecnológico para que o Micado promovesse a modernização japonesa, o que ficou conhecida como Era Meiji, que transformou o Japão num país industrializado e expansionista dentro da própria Ásia. O Imperador atuou de forma hábil nessa modernização, enviando jovens japoneses para estudarem no Ocidente, para posteriormente, no retorno ao Japão, eles transfeririam o conhecimento acumulado para o progresso nipônico. Chama a atenção o fato de que na Era Meiji ter sido criada a burguesia japonesa, beneficiada pela industrialização fomentada pelo Estado. Dessa forma foram sendo constituídos os Zaibatsus, ou seja, os grandes grupos econômicos oriundos das tradicionais famílias como: Aiko, Toshiba, Toyota, Yamaha e outras.
Vale ressaltar que a cooperação britânica não pode
ser considerada como um gesto de generosidade, porque na verdade os súditos da
Rainha Vitória participaram da modernização japonesa (Era Meiji) interessados em transformar o país oriental e um aliado
estratégico, para a contenção do expansionismo russo no Pacífico, iniciado após
a obtenção da saída pelo Porto de Vladvostock, adquirida com a anexação de
parte da Manchúria Chinesa.
O Japão após o acelerado
processo de industrialização iniciou o seu expansionismo no Sudeste Asiático e
no Pacífico. Nesse sentido em 1994/95 promoveu uma ação sobre a China (Guerra
Sino-Japonesa) na qual obteve duas áreas de influência, Coreia e Formosa,
Em 1904/05 o Japão fez a
guerra contra a Rússia na disputa por áreas no Pacífico. A vitória japonesa
empurrou os russos das ilhas do Pacífico, fazendo-os voltar a Vladvostock,
conforme estabelecido no Tratado de Portsmouth de 1905.
(1870-1914) A Partilha da África
(1870-1914) A Partilha da África
No século XIX foi a vez dos
ingleses e dos franceses entrarem na África. A corrida desses países se deveu
da situação de crise pela qual eles passavam. Em 1873 teve início a primeira
crise capitalista de superprodução e que gerou excedente de produtos, de
capitais e de trabalhadores. Daí a África ter sido usada como escoadouro para
esses excedentes.
Na década seguinte os
italianos e alemães se juntaram aos neocolonizadores do continente africano,
depois de concluírem o processo de unificação político-territorial em 1870-1871
e consolidarem o capitalismo. Entretanto, o quadro com qual se
depararam não foi dos melhores, isto porque os britânicos e franceses já haviam
estendido seus domínios em grande parte daquele continente, isso provocou um
claro desequilíbrio na partilha da África, entre as potências imperialistas.
Situação que acirrou as relações entre elas e, sem dúvida alguma, contribuiu
para a ocorrência da Primeira Guerra Mundial em 1914.
A presença de novos
colonizadores ensejou a convocação de uma reunião de cúpula, o Congresso de
Berlim de 1885, com a presença de todos os países com interesse ou possessões
na África. O Congresso de Berlim serviu para serem definidas as regras de
relacionamento entre os colonizadores e entre esses e os nativos, em particular
da chamada África Subsaariana ou Tribal. Entre as deliberações de Berlim
tivemos:
A Conferência de Berlim de 1885 |
1) as áreas já oficialmente ocupadas, não poderiam sofrer uma nova intervenção;
2) ficou proibida a prática da
escravidão;
3) os colonizadores ficaram
responsáveis pela proteção do nativo;
4) ficou estabelecido o direito de
livre navegação no continente, assim como o acesso ao litoral para todos os
colonizadores;
5) o território do atual Estado da
República Democrática do Congo foi reconhecido como uma propriedade particular
do rei Leopoldo I da Bélgica.
Os efeitos da partilha para os africanos e para os europeus
O continente africano ao ser
submetido ao domínio estrangeiro sofreu algumas consequências, e entre elas
algumas, que perduram até hoje como:
- a expropriação de grande parte das riquezas minerais;
- a destruição da cultura primitiva com a instituição da propriedade
privada, da economia de exportação e do trabalho assalariado;
- a criação das fronteiras artificiais que não levaram em conta os
tradicionais limites tribais, ora reunindo tribos rivais num único território
fomentando a rivalidade entre elas para tirar proveito e submetê-las , ora
dividindo tribos irmãs de modo a enfraquecê-las e assim dominá-las. Além disso
foi prática dos europeus elegerem algumas tribos como suas parceiras, dando a
elas um tratamento diferenciado, colocando-as como classe dirigente o que só
contribuiu para que elas pudessem promover uma dizimação de outra ou outras
tribos.
Esse caso é bastante nítido em Ruanda, em que os belgas elegeram a etnia dos Tutsis como uma elite e os levou a promover um controle sobre a etnia dos Hutus.
Imagem da Guerra de Ruanda |
Para o europeu, o processo da
partilha africana, implicou a intensificação das rivalidades entre as
tradicionais forças europeias e as forças emergentes recém unificadas, além de
provocar a formação de alianças como a ítalo-germânica em 1881 e a
franco-britânica em 1904. As rivalidades interimperialistas provocaram além
das alianças, uma tensão que as induziu a uma corrida
armamentista definindo o que se chamou de paz armada, que
precedeu a Grande Guerra de 1914.
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