A América
espanhola no século XIX
O processo
de independência
Entre 1815 e 1824 ocorreram nas colônias espanholas as guerras de
independência entre os exércitos de libertação e a Coroa Espanhola. As guerras
representaram a terminalidade de um processo, cujo cenário vinha se desenhando
desde o final do século anterior, sob influência de um conjunto de fatores
como:
- a
influência do pensamento liberal, cujos princípios de igualdade e de liberdade embasaram ideologicamente a luta pela
libertação liderada nas colônias pela elite
criolla, segmento social formado por indivíduos brancos nascidos nas
colônias, filhos de espanhóis, que constituíam a classe proprietária de terras,
de minas e de escravos. Entretanto, pelo fato de terem nascido na
América, foram excluídos dos cargos da alta administração colonial, que ficaram
reservados para os espanhóis designados pelo Estado Hispânico, os chamados chapetones. De modo que a
independência das colônias significaria para essa elite criolla a ascensão aos
cargos de classe dirigente nas nações recém emancipadas;
- o
interesse inglês na independência das colônias espanholas, porque isto
representava a quebra do pacto colonial espanhol e, por conseguinte, a abertura
de novos mercados para a burguesia industrial inglesa. Por isso, os ingleses
não se furtaram a enviar ajuda material e financeira para os exércitos de
libertação, contribuindo para a vitória deles. Claro que, mais tarde, os
ingleses apresentariam a conta a ser paga pelas novas nações independentes;
- a
expansão napoleônica que atingiu a Península Ibérica também contribuiu, de
forma indireta, para o êxito da luta de libertação das colônias. Isso se deveu
ao fato de Napoleão ter afastado o monarca espanhol do trono, colocando no
mesmo seu irmão José Bonaparte. Essa atitude do imperador francês provocou na
Espanha a formação de um movimento de resistência através das Juntas Governativas.
Nas colônias, a exemplo do que ocorria na metrópole, foram criados
governos locais pela elite criolla, que não reconhecia a autoridade francesa,
mas não representava uma atitude de apoio ao monarca espanhol. Assim, durante a
ocupação francesa na Espanha, as colônias experimentaram uma autonomia política
e econômica, nunca antes concedida pelos colonizadores. Assim que ocorreu
a restauração da monarquia espanhola ao trono em 1815, houve uma tentativa
espanhola de recuperar o controle sobre as colônias esbarrando na resistência
da elite criolla, que não quis renunciar a liberdade política e econômica
exercida durante a ocupação francesa na Espanha;
- a
publicação pelos Estados Unidos da América, em 1823, da Doutrina Monroe, documento no
qual os norte americanos manifestavam apoio à emancipação da América Espanhola.
Nesta doutrina os Estados Unidos se posicionaram contra a intervenção da Santa
Aliança para reprimir a independência das colônias hispânicas como havia sido
solicitado pela monarquia espanhola. A posição ficou celebrizada na frase a América para os americanos.
Fica claro, portanto, que a independência
da América Espanhola deve ser inserida na conjuntura do início do século XIX
marcado pelas ideias liberais e não menos nacionalistas. Por outro lado é
preciso entender a emancipação dessas colônias como a representação dos
interesses da elite criolla interessada em assumir o poder e criar novas
possibilidades de acumulação de riqueza.
Durante as guerras de libertação destacaram-se lideres, até hoje considerados heróis em suas pátrias, grandes comandantes militares e representantes da elite criolla como: Simon Bolívar, José de San Martin, José Sucre, Bernardo O’Higgins e Francisco Miranda.
Estudo de casos na independência
1º) México
Miguel Hidalgo |
Em seguida a repressão ao movimento
liderado pelos padres, o General Itúrbide declarou a independência do país,
instituiu uma monarquia e assumiu o trono sob o título de Agustin I. Ocorre que
esse governo durou cerca de um ano, porque em 1823 o imperador foi assassinado,
após o que instalou-se uma República representativa dos interesses da elite
criolla. Estavam criados os Estados Unidos do México.
2º) Cuba
José Marti |
Com a derrota a Espanha cedeu o controle
de Cuba aos Estados Unidos, assim como também de Porto Rico e das Filipinas. Em
1902 foi criado o Estado Cubano, que incorporou em sua Constituição um conjunto
de normas, de proposição dos Estados Unidos, denominadas Emenda Platt. Por ela
ficou estabelecido o direito de intervenção dos Estados Unidos em Cuba, em nome
da liberdade, da democracia, da justiça social e da segurança do continente.
Além disso os Estados Unidos passariam a ter a preferência na compra do açúcar
cubano e na exploração do subsolo da Ilha.
3º) Panamá
“I TOOK PANAMA”
(Theodor Rossevelt)
Oficialmente
o Panamá se tornou independente da Colômbia, uma vez que fazia parte da Grã-Colômbia, como um Departamento. A emancipação do Panamá teve a participação dos
Estados Unidos no governo Theodor Roosevelt, que considerava o Panamá
estratégico para a construção da passagem do Atlântico para o Pacífico. Em
razão da resistência colombiana em ceder aos Estados Unidos a autorização para
a construção desse canal, levou o governo T. Roosevelt a apoiar e incentivar o
movimento separatista panamenho. Vale registrar, que a construção do Canal
começou nos anos 1880 sob a responsabilidade de uma empresa francesa, que a
interrompeu por volta de 1890 em razão de sua falência.
A América
Espanhola após a independência
A Fragmentação política e
territorial
No século XIX, após as guerras de libertação, organizaram-se os novos Estados
na América Latina sob liderança da elite criolla. O que se verificou foi uma fragmentação territorial e política muito em razão da derrota da proposta
de Simon Bolívar no Congresso
do Panamá de 1826. Naquele congresso, Bolívar propôs a criação da Confederação Latino Americana,
ou seja, a união territorial e política dos países de língua espanhola como
caminho para torná-la forte na relação com as economias centrais.
Entretanto, essa proposta foi derrotada
por uma elite criolla desejosa de exercer o poder em âmbito local e sob
influência da Inglaterra, cujo representante no Congresso se incumbiu de criar
uma imagem de Bolívar associada a instalação de uma grande ditadura sob sua
liderança. Claro que os ingleses por estarem interessados nos mercados recém
libertos do pacto colonial, não se furtariam a agir no sentido inverso daquele
proposto por Bolívar. A fragmentação era o que melhor atendia aos interesses
britânicos, porque, seguramente, empurraria a América para uma condição de
dependência econômica e financeira externa.
A dependência econômica
externa
Em razão da elite criolla ter assumido o
papel de classe dominante, após a independência, contribuiu para a permanência
do modelo econômico agrário exportador do período colonial. Esta permanência
foi decisiva para a condição de dependência externa tanto do ponto de vista
econômico quanto do financeiro.
No
primeiro caso por conta da exportação dos produtos primários para o mercado
europeu provocando um frequente déficit comercial, em razão da importação de
industrializados. No segundo caso a necessidade de obtenção de empréstimos
externos para fazer frente aos custos de instalação dos Estados e dos
investimentos em infraestrutura portuária, em ferrovias entre outros.
O Caudilhismo
A formação de governos autoritários ou caudilhistas foi uma
característica política da América de língua espanhola no século XIX. Foram
verdadeiras ditaduras instaladas por representantes da aristocracia criolla, ou
seja, por uma elite rural, que se instalou no poder e nele permaneceu
valendo-se da força de suas milícias armadas ou por meio de eleições
fraudulentas, que se constituíram numa marca indelével da ordem política do
continente.
Uma característica desses governos foi a
política econômica adotada. Entre eles, havia aqueles que adotaram o
nacionalismo econômico dificultando a presença de capitais estrangeiros em seus
países, como por exemplo os caudilhos paraguaios responsáveis pelo
desenvolvimento singular obtido por aquela nação no século XIX e os que se
conduziam sob uma diretriz liberal, o que facilitava a participação de capitais
estrangeiros na economia nacional.
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