sábado, 29 de julho de 2017

Unidade XIII: A América Espanhola no século XIX

A América espanhola no século XIX

O processo de independência

     Entre 1815 e 1824 ocorreram nas colônias espanholas as guerras de independência entre os exércitos de libertação e a Coroa Espanhola. As guerras representaram a terminalidade de um processo, cujo cenário vinha se desenhando desde o final do século anterior, sob influência de um conjunto de fatores como:
- a influência do pensamento liberal, cujos princípios de igualdade e de liberdade embasaram ideologicamente a luta pela libertação liderada nas colônias pela elite criolla, segmento social formado por indivíduos brancos nascidos nas colônias, filhos de espanhóis, que constituíam a classe proprietária de terras, de minas e de escravos. Entretanto,  pelo fato de terem nascido na América, foram excluídos dos cargos da alta administração colonial, que ficaram reservados para os espanhóis designados pelo Estado Hispânico, os chamados chapetones. De modo que a independência das colônias significaria para essa elite criolla a ascensão aos cargos de classe dirigente nas nações recém emancipadas;
- o interesse inglês na independência das colônias espanholas, porque isto representava a quebra do pacto colonial espanhol e, por conseguinte, a abertura de novos mercados para a burguesia industrial inglesa. Por isso, os ingleses não se furtaram a enviar ajuda material e financeira para os exércitos de libertação, contribuindo para a vitória deles. Claro que, mais tarde, os ingleses apresentariam a conta a ser paga pelas novas nações independentes;
- a expansão napoleônica que atingiu a Península Ibérica também contribuiu, de forma indireta, para o êxito da luta de libertação das colônias. Isso se deveu ao fato de Napoleão ter afastado o monarca espanhol do trono, colocando no mesmo seu irmão José Bonaparte. Essa atitude do imperador francês provocou na Espanha a formação de um movimento de resistência através das Juntas Governativas
     Nas colônias, a exemplo do que ocorria na metrópole, foram criados governos locais pela elite criolla, que não reconhecia a autoridade francesa, mas não representava uma atitude de apoio ao monarca espanhol. Assim, durante a ocupação francesa na Espanha, as colônias experimentaram uma autonomia política e econômica, nunca antes concedida pelos colonizadores. Assim que ocorreu  a restauração da monarquia espanhola ao trono em 1815, houve uma tentativa espanhola de recuperar o controle sobre as colônias esbarrando na resistência da elite criolla, que não quis renunciar a liberdade política e econômica exercida durante a ocupação francesa na Espanha;
- a publicação pelos Estados Unidos da América, em 1823, da Doutrina Monroe, documento no qual os norte americanos manifestavam apoio à emancipação da América Espanhola. Nesta doutrina os Estados Unidos se posicionaram contra a intervenção da Santa Aliança para reprimir a independência das colônias hispânicas como havia sido solicitado pela monarquia espanhola. A posição ficou celebrizada na frase a América para os americanos.
     Fica claro, portanto, que a independência da América Espanhola deve ser inserida na conjuntura do início do século XIX marcado pelas ideias liberais e não menos nacionalistas. Por outro lado é preciso entender a emancipação dessas colônias como a representação dos interesses da elite criolla interessada em assumir o poder e criar novas possibilidades de acumulação de riqueza.
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   Durante as guerras de libertação destacaram-se lideres, até hoje considerados heróis em suas pátrias, grandes comandantes militares e representantes da elite criolla como: Simon Bolívar, José de San Martin, José Sucre, Bernardo O’Higgins e Francisco Miranda.





Estudo de casos na independência
    
1º) México
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Miguel Hidalgo
    
 O processo de independência mexicana declarada em 1823, teve uma trajetória particular porque, inicialmente o movimento de libertação era liderado pelos padres Morelos e Hidalgo, que construíram uma aliança com os camponeses de origem indígena. Entretanto, esse movimento foi reprimido pelos espanhóis, através da força militar comandada pelo general Agustin Itúrbide.
     Em seguida a repressão ao movimento liderado pelos padres, o General Itúrbide declarou a independência do país, instituiu uma monarquia e assumiu o trono sob o título de Agustin I. Ocorre que esse governo durou cerca de um ano, porque em 1823 o imperador foi assassinado, após o que instalou-se uma República representativa dos interesses da elite criolla. Estavam criados os Estados Unidos do México.


2º) Cuba
    
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José Marti
     A independência da Ilha Caribenha data de 1898 como desdobramento da Guerra Hispano-Norte Americana (1896-98), que com a vitória os Estados Unidos exigiram o reconhecimento espanhol da independência de Cuba e das Filipinas na Ásia. Essa guerra resultou do envolvimento norte americano na luta de independência de Cuba, uma região que despertava o interesse dos Estados Unidos, que haviam inclusive feito uma proposta de compra junto ao Estado Espanhol.
     Com a derrota a Espanha cedeu o controle de Cuba aos Estados Unidos, assim como também de Porto Rico e das Filipinas. Em 1902 foi criado o Estado Cubano, que incorporou em sua Constituição um conjunto de normas, de proposição dos Estados Unidos, denominadas Emenda Platt. Por ela ficou estabelecido o direito de intervenção dos Estados Unidos em Cuba, em nome da liberdade, da democracia, da justiça social e da segurança do continente. Além disso os Estados Unidos passariam a ter a preferência na compra do açúcar cubano e na exploração do subsolo da Ilha.


3º) Panamá
I TOOK PANAMA” 
                            (Theodor Rossevelt)
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  Oficialmente o Panamá se tornou independente da Colômbia, uma vez que fazia parte da Grã-Colômbia, como um Departamento. A emancipação do Panamá teve a participação dos Estados Unidos no governo Theodor Roosevelt, que considerava o Panamá estratégico para a construção da passagem do Atlântico para o Pacífico. Em razão da resistência colombiana em ceder aos Estados Unidos a autorização para a construção desse canal, levou o governo T. Roosevelt a apoiar e incentivar o movimento separatista panamenho. Vale registrar, que a construção do Canal começou nos anos 1880 sob a responsabilidade de uma empresa francesa, que a interrompeu por volta de 1890 em razão de sua falência.


A América Espanhola após a independência

A Fragmentação política e territorial
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     No século XIX, após as guerras de libertação, organizaram-se os novos Estados na América Latina sob liderança da elite criolla. O que se verificou foi uma fragmentação territorial e política muito em razão da derrota da proposta de Simon Bolívar no Congresso do Panamá de 1826. Naquele congresso, Bolívar propôs a criação da Confederação Latino Americana, ou seja, a união territorial e política dos países de língua espanhola como caminho para torná-la forte na relação com as economias centrais.
     Entretanto, essa proposta foi derrotada por uma elite criolla desejosa de exercer o poder em âmbito local e sob influência da Inglaterra, cujo representante no Congresso se incumbiu de criar uma imagem de Bolívar associada a instalação de uma grande ditadura sob sua liderança. Claro que os ingleses por estarem interessados nos mercados recém libertos do pacto colonial, não se furtariam a agir no sentido inverso daquele proposto por Bolívar. A fragmentação era o que melhor atendia aos interesses britânicos, porque, seguramente, empurraria a América para uma condição de dependência econômica e financeira externa.

A dependência econômica externa

     Em razão da elite criolla ter assumido o papel de classe dominante, após a independência, contribuiu para a permanência do modelo econômico agrário exportador do período colonial. Esta permanência foi decisiva para a condição de dependência externa tanto do ponto de vista econômico quanto do financeiro.
     No primeiro caso por conta da exportação dos produtos primários para o mercado europeu provocando um frequente déficit comercial, em razão da importação de industrializados. No segundo caso a necessidade de obtenção de empréstimos externos para fazer frente aos custos de instalação dos Estados e dos investimentos em infraestrutura portuária, em ferrovias entre outros.

O Caudilhismo

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     A formação de governos autoritários ou caudilhistas foi uma característica política da América de língua espanhola no século XIX. Foram verdadeiras ditaduras instaladas por representantes da aristocracia criolla, ou seja, por uma elite rural, que se instalou no poder e nele permaneceu valendo-se da força de suas milícias armadas ou por meio de eleições fraudulentas, que se constituíram numa marca indelével da ordem política do continente.

     Uma característica desses governos foi a política econômica adotada. Entre eles, havia aqueles que adotaram o nacionalismo econômico dificultando a presença de capitais estrangeiros em seus países, como por exemplo os caudilhos paraguaios responsáveis pelo desenvolvimento singular obtido por aquela nação no século XIX e os que se conduziam sob uma diretriz liberal, o que facilitava a participação de capitais estrangeiros na economia nacional. 


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