América nos séculos XVIII e XIX
I) Os Estados Unidos da América
1- A Independência das Treze colônias (1776)
A emancipação dos atuais Estados Unidos da
América é considerada pela historiografia norte americana como um processo
revolucionário – A Revolução Americana – e representou uma
luta em defesa da liberdade individual e do direito de terem seu próprio
governo.
O processo foi deflagrado em
meados do século XVIII, após a mudança de atitude do governo britânico, que,
depois de cem anos de negligência salutar, decidiu reprimir a
autonomia política e econômica de suas colônias da Nova Inglaterra.
Esta mudança se traduziu na criação de leis, que restringiriam a liberdade de
comércio e impunham tributos, até então inexistentes como:
a Lei do Açúcar, a Lei do Selo, a Lei da Moeda, a Lei dos Importados, a
Lei de Quebec e a Lei do Chá.
Segundo o governo britânico,
essas medidas se justificavam pelo fato de a Inglaterra precisar repor as
perdas sofridas pelo tesouro com a Guerra dos Sete Anos contra a França. Ainda
que houvesse vencido a guerra e obtivesse conquistas coloniais, a Inglaterra
havia gasto muitos recursos no conflito e entendia que, os colonos, por serem
ingleses, deveriam também contribuir para a recuperação financeira do Estado.
Entretanto, há uma análise
que difere da justificativa inglesa, porque considera que a nova política
inglesa seria uma represália aos colonos em razão da conduta deles na guerra em
que não teriam lutado ao lado dos ingleses e também uma repressão ao comércio
triangular, que estaria competindo com a burguesia colonial na região das
Antilhas e no tráfico de escravos.
A criação das leis provocou a reação dos
colonos através de ações como:
- o questionamento da legalidade das leis, sob o argumento de não terem
representantes no Parlamento Britânico o que os isentava da obrigatoriedade do
pagamento de impostos votados pelo mesmo. Daí a expressão: sem
representação não há tributação;
- o boicote ao comércio inglês;
A Festa do Chá em Boston (The Boston tea Party) |
- a destruição do carregamento de chá no porto de Boston em 1773, no
episódio conhecido como the Boston tea party ( a festa do chá
em Boston ) em que colonos travestidos de índios invadiram o navio da Companhia
Britânica das Índias Orientais, a reação da Coroa Britânica não tardou. Em
represália ao episódio de Boston foram decretadas as Leis Intoleráveis ou Coercitivas;
- a realização dos Congressos da Filadélfia entre 1774 e 1776 com a presença de representantes das Treze Colônias, em que exigiram a revogação das Leis Intoleráveis com a Declaração de direitos e agravos dos colonos e, em 04 de julho de 1776 em que publicaram a Declaração de Independência, redigida por uma comissão encabeçada por Thomas Jefferson e inspirada nas ideias liberais ou iluministas difundidas nas Treze Colônias com a publicação do livro Common Sense de Thomas Payne.
As Leis Intoleráveis
Em 1774 após o episódio do Chá em
Boston, o governo britânico publicou o conjunto de medidas de cunho
coercitivo, denominadas Leis Intoleráveis, que estabeleceram:
- o
fechamento do porto de Boston até o pagamento da indenização;
- a
nomeação de um governo militar para a colônia de Massachussets suprimindo a
autonomia política dos colonos que elegiam seus dirigentes, formavam suas
assembleias, criavam seus tribunais, cunhavam as moedas e criavam e cobravam
seus tributos;
- a
instalação na Colônia de Massachussets de uma unidade militar como garantia
de cumprimento das medidas anteriores.
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Após a Declaração de Independência, teve início a
Guerra de Independência (1776/1781) vencida pelo exército colonial comandado
pelo sulista George Washington, com apoio externo dos franceses e dos
espanhóis. Esse apoio foi uma resposta desses dois países a derrota sofrida
frente à Inglaterra na Guerra dos Sete Anos, que lhes custou a perda de áreas
coloniais. Em 1781 com a vitória na batalha de Yorktown, foi sacramentada a
independência.
Em 1783 com a assinatura do
Tratado de Versalhes o Estado Britânico reconheceu a independência de suas
colônias. Os quatro anos subsequentes foram dedicados à construção da União
finalizada com a promulgação da Constituição de 1787, que definiu a
República Presidencialista, a tripartição do poder, o federalismo, mandato
presidencial de quatro anos, autonomia das unidades da federação para
legislarem sobre determinados temas como a prática do protecionismo e
permanência do escravismo.
2- Os Estados Unidos após independência
A expansão territorial (1783/1867)
Através de negociação com a Inglaterra, da
compra junto aos espanhóis, aos franceses, aos mexicanos e aos russos e da
anexação dos territórios mexicanos, os EUA promoveram a sua expansão
territorial da Costa do Atlântico à Costa do Pacífico.
Territórios que
foram incorporados aos Estados Unidos, ao longo da expansão.
- O território entre os Montes
Apalaches e o Rio Mississipi, obtido no Tratado de reconhecimento da independência de 1783 com a Inglaterra;
- A Luisiana comprada aos franceses
em 1803;
- A Flórida comprada aos espanhóis em
1818;
- Os territórios mexicanos obtidos
após a Guerra do Texas (1846/48) e pela assinatura do Tratado de Guadalupe Hidalgo firmado com o México;
- O território do Oregon/Washington
negociado com a Inglaterra em 1853;
- O Alaska comprado junto aos russos
em 1867.
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Todo esse processo foi ideologicamente
justificado pela Doutrina do Destino Manifesto e no Corolário
Polk de 1845. A Doutrina apresentava a expansão como uma missão confiada
por Deus aos norte-americanos, que deveriam levar a democracia e a União até a
mais longínqua fronteira. O Corolário justificou a anexação dos territórios
mexicanos ao considerar o direito de qualquer ex-colônia de integrar a União se
esse fosse o desejo de sua população e desde que os EUA não se opusessem.
Com a expansão alcançando a
fronteira do Pacífico, os ganhos para os norte-americanos foram expressivos,
tais como: uma segunda saída oceânica, inúmeras reservas minerais, isto
é, fontes de energia e de matéria prima, terras agricultáveis e ampliação do
mercado interno.
(1861/65) A Secessão e a Guerra Civil
Em dezembro de 1860 inaugurada pela Carolina do
Sul começou a secessão norte americana, que em fevereiro de 1861 reunia 11
estados e resultou na formação dos EstadOss Confederados da América. Esse
processo separatista resultou de uma série de divergências entre a burguesia
nortista e a aristocracia sulista com relação a posição nortista em defesa
do abolicionismo, do protecionismo e da instalação das ferrovias,
que contrariava os interesses da aristocracia sulista que rebatia esses pontos
alegando a mão de obra escrava oferecia a ela a melhor relação custo benefício
na atividade agrário exportadora, quanto ao protecionismo o argumento era o
receio dos exportadores sulistas de sofrerem retaliação do mercado europeu a
medida que reduzisse as importações de industrializados e com relação as
ferrovias os sulistas alegavam que o custo era elevadíssimo e os benefícios
para a região não os justificavam.
Entretanto, a ruptura da
União ocorreu após a eleição do republicano Abraham Lincoln para a presidência
da República em 1860, o que representava a vitória da burguesia nortista
considerada inoportuna pela aristocracia sulista cujos candidatos democratas
dividiram os votos permitindo a vitória dos republicanos. Ainda em dezembro de 1860,
por iniciativa do estado da Carolina do Sul teve início a secessão.
A eleição de Abraham Lincoln e
a secessão
“[...] Em 06 de dezembro de 1860 foi eleito presidente dos EUA um novato no
cenário político norte americano, um jovem advogado do estado de Illinois com
um perfil moderado, que conseguiu unir as várias facções do partido
Republicano. O eleito foi Abraham Lincoln nascido no Kentucky.
A
vitória de Lincoln foi facilitada pelo fato de os Democratas não terem
indicado um candidato de união. O Partido apresentou dois candidatos Stephen
Douglas indicado pelos nortistas, John C. Breckinridge pelos sulistas e ainda
teve a indicação de John Bell do Partido da União Constitucional.
Apesar das reiteradas proclamações de Lincoln
de que nada faria contra a escravidão, os ânimos dos sulistas estavam
extremamente acirrados. Acreditavam que a vitória de Lincoln representava
mais um passo dos nortistas em direção ao objetivo de destruir o tradicional
modo de vida que eles haviam adotado (pastoril e escravista). E isso era
inadmissível.
Por isso, confirmada a vitória do candidato
republicano, uma convenção do legislativo da Carolina do Sul revogou a
ratificação, feita por este estado, da Constituição dos Estados Unidos e declarou
dissolvida a sua união com os outros estados. A Ordenação de Secessão da
Carolina do Sul, ocorrida em 20 de dezembro de 1860, foi seguida, nas semanas
seguintes, por outros estados sulistas, que formaram um novo país, os Estados
Confederados da América. Em fevereiro de 1861, as principais lideranças
sulistas se reuniram em Montgomery, Alabama, e escolheram Jefferson Davis, um
fazendeiro de algodão do Mississipi, para presidir a recém fundada nação. Uma
nova Constituição foi aprovada, baseada na dos Estados Unidos, porém com
algumas diferenças fundamentais:
Os
Estados Confederados podem adquirir novos territórios, [...] Em todos esses
territórios, a instituição da escravidão negra, tal como ora existe nos
Estados Confederados, será reconhecida e protegida pelo Congresso e pelo
governo territorial; e os habitantes dos vários Estados Confederados e
Territórios terão o direito de levar para esse território quaisquer escravos
legalmente possuídos por eles em quaisquer Estados ou Territórios dos Estados
Confederados [...]
[Art.IV
Seção 3, 1861]
Para muitos juristas, era legítimo o
direito de um estado retirar-se voluntariamente da Federação forjada durante
as guerras de independência. Mas o novo presidente dos Estados Unidos estava
disposto a preservar a unidade nacional por todos os meios.
O que
precipitou os combates foi o ataque às tropas federais estabelecidas no Fort
Sumter (Carolina do Sul) em abril de 1861. Para os sulistas era uma
provocação que um quartel da União mantivesse a bandeira dos Estados Unidos
tremulando em pleno território da Confederação. O conflito amadurecido por
décadas estava começando [...]”
(
VALLADARES, E. M, In Jornal Mundo Geografia e Política Internacional. Nº 2.
Abril de 2011.)
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Entre 1861 e 1865 os Estados Unidos enfrentaram a grande prova para
preservar a integridade territorial, a Guerra Civil entre a União e os Estados
Confederados da América criados pela secessão. A disparidade de forças sugeria
uma guerra curta, no entanto ela durou cerca de quatro anos, vitimando mais de
610 mil pessoas.
O Norte e o Sul na Guerra Civil (1861-65)
O Norte ou a União tinha
uma economia muito mais forte que a sulista, baseada na produção industrial e
agrícola que utilizavam a força de trabalho assalariada. Além disso os
nortistas tinham um exército mais numeroso, um setor da construção naval que
produziu mais de 500 navios, acrescente-se o fato de os nortistas
terem acesso a um maior volume de recursos provenientes da tributação e de
empréstimos externos.
O Sul ou Estados
Confederados sustentou a guerra com uma economia agrária e exportadora com
mão de obra escravista e uma insuficiente produção industrial. Durante o
conflito os sulistas sofreram um bloqueio de suas exportações e tiveram muita
dificuldade para obtenção de empréstimos externos.
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A vitória dos nortistas deve ser traduzida como um a
vitória da burguesia industrial e dos banqueiros sobre a aristocracia
escravista. Com o término da guerra a União foi restaurada, a Lei Abolicionista
da União de 1863 estendeu-se aos estados do sul reintegrados à União, a
política de fomento a imigração criada em 1862 com o Homestead Act pelos EUA
também foi adotada pelos sulistas e as ferrovias que não contavam com a
simpatia dos sulistas foram instaladas para estreitar as relações com o Oeste.
Com o da fim da Guerra Civil, foram criadas as condições para o take-off da
economia dos Estados Unidos.
Entretanto, a vitória da
mentalidade capitalista na guerra não foi suficiente para evitar a prática do
racismo nos Estados Unidos. Mesmo com a criação da XIII Emenda, que extinguiu a
escravidão e da XV Emenda, que proibiu discriminação dos eleitores por razões
raciais, nos estados do sul os negros foram excluídos do exercício da
cidadania. Isto mostra que os negros haviam se tornado homens livres mas não
cidadãos. Inclusive, no sul formaram-se organizações racistas que promoveram
uma perseguição brutal contra os negro a ponto de executá-los friamente, como a
Ku Klux Klan (imagem 1). Esse quadro estendeu-se pelos cem anos subsequentes, até que nas
décadas de 1950 e 1960 através de lutas empreendidas por movimentos pacifistas
como o liderado pelo pastor Martin Luther King Jr. (imagem 2) e não pacifistas como dos
Panteras Negras (Black Panthers- imagem 3) em que se destacou a figura de Malcoln X, o governo norte
americano entendeu que era a hora de instalar a igualdade entre os indivíduos
com as leis dos direitos civis e a utilização das políticas
afirmativas.
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