sábado, 29 de julho de 2017

Unidade XII: Os Estados Unidos da América nos séculos XVIII e XIX

 América nos séculos XVIII e XIX

I) Os Estados Unidos da América

1- A Independência das Treze colônias (1776)

     A emancipação dos atuais Estados Unidos da América é considerada pela historiografia norte americana como um processo revolucionário – A Revolução Americana – e representou uma luta em defesa da liberdade individual e do direito de terem seu próprio governo.
     O processo foi deflagrado em meados do século XVIII, após a mudança de atitude do governo britânico, que, depois de cem anos de negligência salutar, decidiu reprimir a autonomia política e econômica de suas colônias da Nova Inglaterra. Esta mudança se traduziu na criação de leis, que restringiriam a liberdade de comércio e impunham tributos, até então inexistentes como:

a Lei do Açúcar, a Lei do Selo, a Lei da Moeda, a Lei dos Importados, a Lei de Quebec e a Lei do Chá.
     Segundo o governo britânico, essas medidas se justificavam pelo fato de a Inglaterra precisar repor as perdas sofridas pelo tesouro com a Guerra dos Sete Anos contra a França. Ainda que houvesse vencido a guerra e obtivesse conquistas coloniais, a Inglaterra havia gasto muitos recursos no conflito e entendia que, os colonos, por serem ingleses, deveriam também contribuir para a recuperação financeira do Estado.
     Entretanto, há uma análise que difere da justificativa inglesa, porque considera que a nova política inglesa seria uma represália aos colonos em razão da conduta deles na guerra em que não teriam lutado ao lado dos ingleses e também uma repressão ao comércio triangular, que estaria competindo com a burguesia colonial na região das Antilhas e no tráfico de escravos.
     A criação das leis provocou a reação dos colonos através de ações como:

o questionamento da legalidade das leis, sob o argumento de não terem representantes no Parlamento Britânico o que os isentava da obrigatoriedade do pagamento de impostos votados pelo mesmo. Daí a expressão: sem representação não há tributação;
o boicote ao comércio inglês;
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A Festa do Chá em Boston (The Boston tea Party)
- a destruição do carregamento de chá no porto de Boston em 1773, no episódio conhecido como the Boston tea party ( a festa do chá em Boston ) em que colonos travestidos de índios invadiram o navio da Companhia Britânica das Índias Orientais, a reação da Coroa Britânica não tardou. Em represália ao episódio de Boston foram decretadas as Leis Intoleráveis ou Coercitivas;


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- a realização dos Congressos da Filadélfia entre 1774 e 1776 com a presença de representantes das Treze Colônias, em que exigiram a revogação das Leis Intoleráveis com  a Declaração de direitos e agravos dos colonos e, em 04 de julho de 1776 em que publicaram a Declaração de Independência, redigida por uma comissão encabeçada por Thomas Jefferson e inspirada nas ideias liberais ou iluministas difundidas nas Treze Colônias com a publicação do livro Common Sense de Thomas Payne.




                                                
                                               As Leis Intoleráveis

     Em 1774 após o episódio do Chá em Boston, o governo britânico publicou o conjunto de medidas de cunho coercitivo, denominadas Leis Intoleráveis, que estabeleceram:

- o fechamento do porto de Boston até o pagamento da indenização;

- a nomeação de um governo militar para a colônia de Massachussets suprimindo a autonomia política dos colonos que elegiam seus dirigentes, formavam suas assembleias, criavam seus tribunais, cunhavam as moedas e criavam e cobravam seus tributos;

- a instalação na Colônia de Massachussets de uma unidade militar como garantia de cumprimento das medidas anteriores.

     Após a Declaração de Independência, teve início a Guerra de Independência (1776/1781) vencida pelo exército colonial comandado pelo sulista George Washington, com apoio externo dos franceses e dos espanhóis. Esse apoio foi uma resposta desses dois países a derrota sofrida frente à Inglaterra na Guerra dos Sete Anos, que lhes custou a perda de áreas coloniais. Em 1781 com a vitória na batalha de Yorktown, foi sacramentada a independência.
     Em 1783 com a assinatura do Tratado de Versalhes o Estado Britânico reconheceu a independência de suas colônias. Os quatro anos subsequentes foram dedicados à construção da União finalizada com a promulgação da Constituição de 1787, que definiu a República Presidencialista, a tripartição do poder, o federalismo, mandato presidencial de quatro anos,  autonomia das unidades da federação para legislarem sobre determinados temas como a prática do protecionismo e permanência do escravismo.

2- Os Estados Unidos após independência

A expansão territorial (1783/1867)
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     Através de negociação com a Inglaterra, da compra junto aos espanhóis, aos franceses, aos mexicanos e aos russos e da anexação dos territórios mexicanos, os EUA promoveram a sua expansão territorial da Costa do Atlântico à Costa do Pacífico.








Territórios que foram incorporados aos Estados Unidos, ao longo da expansão.

- O território entre os Montes Apalaches e o Rio Mississipi, obtido no Tratado de reconhecimento da  independência de 1783 com a Inglaterra;
- A Luisiana comprada aos franceses em 1803;
- A Flórida comprada aos espanhóis em 1818;
- Os territórios mexicanos obtidos após a Guerra do Texas (1846/48) e pela assinatura do Tratado    de Guadalupe Hidalgo firmado com o México;
- O território do Oregon/Washington negociado com a Inglaterra em 1853;
- O Alaska comprado junto aos russos em 1867.


     Todo esse processo foi ideologicamente justificado pela Doutrina do Destino Manifesto e no Corolário Polk de 1845. A Doutrina apresentava a expansão como uma missão confiada por Deus aos norte-americanos, que deveriam levar a democracia e a União até a mais longínqua fronteira. O Corolário justificou a anexação dos territórios mexicanos ao considerar o direito de qualquer ex-colônia de integrar a União se esse fosse o desejo de sua população e desde que os EUA não se opusessem.
     Com a expansão alcançando a fronteira do Pacífico, os ganhos para os norte-americanos foram expressivos, tais como: uma segunda saída oceânica, inúmeras reservas minerais, isto é, fontes de energia e de matéria prima, terras agricultáveis e ampliação do mercado interno.

(1861/65) A Secessão e a Guerra Civil

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     Em dezembro de 1860 inaugurada pela Carolina do Sul começou a secessão norte americana, que em fevereiro de 1861 reunia 11 estados e resultou na formação dos EstadOss Confederados da América. Esse processo separatista resultou de uma série de divergências entre a burguesia nortista e a aristocracia sulista com relação a posição nortista em defesa do abolicionismo, do protecionismo e da instalação das ferrovias, que contrariava os interesses da aristocracia sulista que rebatia esses pontos alegando a mão de obra escrava oferecia a ela a melhor relação custo benefício na atividade agrário exportadora, quanto ao protecionismo o argumento era o receio dos exportadores sulistas de sofrerem retaliação do mercado europeu a medida que reduzisse as importações de industrializados e com relação as ferrovias os sulistas alegavam que o custo era elevadíssimo e os benefícios para a região não os justificavam.
     Entretanto, a ruptura da União ocorreu após a eleição do republicano Abraham Lincoln para a presidência da República em 1860, o que representava a vitória da burguesia nortista considerada inoportuna pela aristocracia sulista cujos candidatos democratas dividiram os votos permitindo a vitória dos republicanos. Ainda em dezembro de 1860, por iniciativa do estado da Carolina do Sul teve início a secessão.

                        A eleição de Abraham Lincoln e a secessão

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     “[...] Em 06 de dezembro de 1860 foi eleito presidente dos EUA um novato no cenário político norte americano, um jovem advogado do estado de Illinois com um perfil moderado, que conseguiu unir as várias facções do partido Republicano. O eleito foi Abraham Lincoln nascido no Kentucky.
A vitória de Lincoln foi facilitada pelo fato de os Democratas não terem indicado um candidato de união. O Partido apresentou dois candidatos Stephen Douglas indicado pelos nortistas, John C. Breckinridge pelos sulistas e ainda teve a indicação de John Bell do Partido da União Constitucional.
     Apesar das reiteradas proclamações de Lincoln de que nada faria contra a escravidão, os ânimos dos sulistas estavam extremamente acirrados. Acreditavam que a vitória de Lincoln representava mais um passo dos nortistas em direção ao objetivo de destruir o tradicional modo de vida que eles haviam adotado (pastoril e escravista). E isso era inadmissível.
     Por isso, confirmada a vitória do candidato republicano, uma convenção do legislativo da Carolina do Sul revogou a ratificação, feita por este estado, da Constituição dos Estados Unidos e declarou dissolvida a sua união com os outros estados. A Ordenação de Secessão da Carolina do Sul, ocorrida em 20 de dezembro de 1860, foi seguida, nas semanas seguintes, por outros estados sulistas, que formaram um novo país, os Estados Confederados da América. Em fevereiro de 1861, as principais lideranças sulistas se reuniram em Montgomery, Alabama, e escolheram Jefferson Davis, um fazendeiro de algodão do Mississipi, para presidir a recém fundada nação. Uma nova Constituição foi aprovada, baseada na dos Estados Unidos, porém com algumas diferenças fundamentais:
Os Estados Confederados podem adquirir novos territórios, [...] Em todos esses territórios, a instituição da escravidão negra, tal como ora existe nos Estados Confederados, será reconhecida e protegida pelo Congresso e pelo governo territorial; e os habitantes dos vários Estados Confederados e Territórios terão o direito de levar para esse território quaisquer escravos legalmente possuídos por eles em quaisquer Estados ou Territórios dos Estados Confederados [...]   
 [Art.IV Seção 3, 1861]
     Para muitos juristas, era legítimo o direito de um estado retirar-se voluntariamente da Federação forjada durante as guerras de independência. Mas o novo presidente dos Estados Unidos estava disposto a preservar a unidade nacional por todos os meios.
O que precipitou os combates foi o ataque às tropas federais estabelecidas no Fort Sumter (Carolina do Sul) em abril de 1861. Para os sulistas era uma provocação que um quartel da União mantivesse a bandeira dos Estados Unidos tremulando em pleno território da Confederação. O conflito amadurecido por décadas estava começando [...]”

( VALLADARES, E. M, In Jornal Mundo Geografia e Política Internacional. Nº 2. Abril de 2011.)

     
Entre 1861 e 1865 os Estados Unidos enfrentaram a grande prova para preservar a integridade territorial, a Guerra Civil entre a União e os Estados Confederados da América criados pela secessão. A disparidade de forças sugeria uma guerra curta, no entanto ela durou cerca de quatro anos, vitimando mais de 610 mil pessoas.

                 O Norte e o Sul na Guerra Civil (1861-65)        

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     O Norte ou a União tinha uma economia muito mais forte que a sulista, baseada na produção industrial e agrícola que utilizavam a força de trabalho assalariada. Além disso os nortistas tinham um exército mais numeroso, um setor da construção naval que produziu   mais de 500 navios, acrescente-se o fato de os nortistas terem acesso a um maior volume de recursos provenientes da tributação e de empréstimos externos.
     O Sul ou Estados Confederados sustentou a guerra com uma economia agrária e exportadora com mão de obra escravista e uma insuficiente produção industrial. Durante o conflito os sulistas sofreram um bloqueio de suas exportações e tiveram muita dificuldade para obtenção de empréstimos externos.
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     A vitória dos nortistas deve ser traduzida como um a vitória da burguesia industrial e dos banqueiros sobre a aristocracia escravista. Com o término da guerra a União foi restaurada, a Lei Abolicionista da União de 1863 estendeu-se aos estados do sul reintegrados à União, a política de fomento a imigração criada em 1862 com o Homestead Act pelos EUA também foi adotada pelos sulistas e as ferrovias que não contavam com a simpatia dos sulistas foram instaladas para estreitar as relações com o Oeste. Com o da fim da Guerra Civil, foram criadas as condições para o take-off da economia dos Estados Unidos.

     Entretanto, a vitória da mentalidade capitalista na guerra não foi suficiente para evitar a prática do racismo nos Estados Unidos. Mesmo com a criação da XIII Emenda, que extinguiu a escravidão e da XV Emenda, que proibiu discriminação dos eleitores por razões raciais, nos estados do sul os negros foram excluídos do exercício da cidadania. Isto mostra que os negros haviam se tornado homens livres mas não cidadãos. Inclusive, no sul formaram-se organizações racistas que promoveram uma perseguição brutal contra os negro a ponto de executá-los friamente, como a Ku Klux Klan (imagem 1). Esse quadro estendeu-se pelos cem anos subsequentes, até que nas décadas de 1950 e 1960 através de lutas empreendidas por movimentos pacifistas como o liderado pelo pastor Martin Luther King Jr. (imagem 2) e não pacifistas como dos Panteras Negras (Black Panthers- imagem 3) em que se destacou a figura de Malcoln X, o governo norte americano entendeu que era a hora de instalar a igualdade entre os indivíduos com as leis dos direitos civis e a utilização das políticas afirmativas.


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