sábado, 29 de julho de 2017

Unidade III - O Expansionismo Marítimo e Comercial da Europa (séculos XV/XVI)



O Expansionismo Marítimo e Comercial da Europa

As Grandes Navegações dos séculos XV e XVI

Resultado de imagem para imagens do expansionismo europeu do século xv

     O expansionismo ultramarino europeu deve ser entendido como um movimento inserido na Transição do Feudalismo para o Capitalismo. Outro aspecto a ser abordado aqui é o fato de a expansão ter sido realizada para superar as dificuldades enfrentadas pela Europa desde o século XIV, tais como:

- a crise monetária decorrente da escassez de metais preciosos para a cunhagem de moedas, causando riscos para a circulação de mercadorias;

 - as dificuldades para a obtenção das especiarias, ou seja, diversos produtos da culinária, da medicina tradicional e da ourivesaria, entre outros oriundos da região das Índias Orientais e que eram monopolizados pelos comerciantes italianos, que os compravam nos portos do Mediterrâneo Oriental dos mercadores árabes. Essa situação concorria para uma elevação frequente dos preços cobrados no mercado europeu.

     De modo que o expansionismo marítimo e comercial tornou-se imperativo para: o enfrentamento dos problemas econômicos; para proporcionar o fortalecimento do Estado;  para permitir a acumulação de riqueza nas mãos do grupo mercantil.

     (...) Os reis precisavam de muito poder para governar a tudo e a todos. Esse poder precisava ser sustentado pelas riquezas: não era possível ser forte sem ser rico. Os reis se interessaram pelos negócios dos comerciantes e se associaram a eles. Em troca os comerciantes financiaram as principais despesas do reino.
Ao se iniciar o século XV, a Europa possuía uma série de conhecimentos básicos para realizar as grandes navegações: “Navegar é preciso”, como diria bem mais tarde o poeta Fernando Pessoa. Em condições melhores, Portugal e Espanha se sobressaíram na aventura marítima. Num período de cem anos, portugueses e espanhóis contornaram a África, atingiram a Ásia, descobriram a América e a Oceania e deram a volta ao mundo, numa das experiências mais empolgantes de todos os tempos (...)

[AMADO, J. & GARCIA. L.F. Navegar é preciso. Grandes descobrimentos marítimos europeus. Atual. 6ª edição. 1991. p.7]



     Não obstante o fato de o expansionismo ser visto como uma superação de dificuldades,  devem ser destacados a influência de outros fatores nesse processo como:

- a aliança entre o Estado e a burguesia: os Estados recém formados engajaram-se na expansão a medida que precisavam captar recursos para fazerem frente as suas despesas de funcionamento. De modo que protegido pelo Estado, o capital burguês pode ser investido na expansão ultramarina;

- o desenvolvimento técnico-científico: como a expansão se fez pelo Atlântico, cujas condições de navegabilidade não eram tranquilas e havia sobre o Oceano lendas e mitos que amedrontavam os europeus, isto tornou necessária a precisão dos equipamentos alcançada pela criação das caravelas, pelo aperfeiçoamento da bússola e do astrolábio, pelo desenvolvimento do quadrante e da cartografia esta, apoiada no avanço da astronomia;

 - o espírito religioso: ainda que reconhecendo a motivação econômica do expansionismo, algumas publicações da época fazem referência a restauração do espírito cruzadista nas Grandes Navegações, ou seja, elas incluíram entre seus propósitos a expansão do cristianismo.

O pioneirismo português nas navegações do século XV



Resultado de imagem para imagens do pioneirismo português

    Ainda que a expansão fosse do interesse da Europa, coube ao pequenino Estado de Portugal atuar como pioneiro nesse processo. Essa primazia deveu-se a uma combinação de situações:

- a formação do Estado no século XIII sob a liderança de Henrique de Borgonha e a aliança firmada entre a dinastia de Borgonha e o grupo mercantil, que resultou na criação de leis de proteção do capital e de incentivo ao comércio e a construção naval;

- o desenvolvimento da técnica de navegação alcançada pelos portugueses em centros de estudos como se constituiu a Escola de Sagres fundada pelo Infante D. Henrique;

- a posição geográfica, que tornou Portugal um ponto comercial de transição do Mediterrâneo para o Atlântico Norte. Daí o comércio adquirir tradição entre os portugueses, manifestar-se o interesse do Estado em impulsioná-lo e a aquisição de conhecimentos nos contratos com navegadores e comerciantes do Norte da Europa como os batavos.

O périplo português da África

     Com relação a trajetória portuguesa em direção às Índias Orientais, região alvo do projeto expansionista, que visava alcançar a região das especiarias- se fez através do périplo africano em nome da segurança - não nos esqueçamos dos medos em relação ao Atlântico – e da exploração do continente negro, cujos recursos retirados e comerciados, com a instalação de feitorias no litoral, financiariam a própria empresa expansionista.
     Cronologicamente o expansionismo lusitano começou em 1415 com a conquista de Ceuta no Norte da África, avançou com as feitorias na costa ocidental, ultrapassou em 1487/88 com Bartolomeu Dias o Cabo da Boa Esperança e atingiu seu ápice em 1498 com Vasco da Gama alcançando a cidade de Calicute.
     A chegada dos portugueses às Índias foi precedida pela assinatura, com o Estado Espanhol, do Tratado de Tordesilhas em 1494, que dividiu entre eles as terras conquistadas e aquelas ainda a serem alcançadas.
     As conquistas portuguesas produziram um considerável conjunto de mudanças como a troca do eixo comercial do Mediterrâneo para o Atlântico o que decretou o declínio comercial das cidades italianas e a formação de um império colonial tricontinental.

     “E aproximava-se o tempo da chegada das notícias de Portugal sobre a vinda das suas caravelas, e esperava-se essa notícia com muito medo e apreensão; e por causa disso não havia transações, nem de um ducado... Na feira alemã de Veneza não muitos negócios.”
                                  [Diário de um mercador Veneziano, 1508]

  

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele é que espelhou o céu.”

[Pessoa, Fernando. Mar português]
Esse poema de Fernando Pessoa se refere à conquista dos mares pelos portugueses no início da era moderna, cujos resultados ficaram conhecidos como as Grandes Navegações.

A expansão espanhola


Imagem relacionada

     Após superarem seus problemas internos como a formação do Estado Nacional e a retomada do controle político das áreas, até então controladas pelos mouros, obtida na Guerra de Reconquista finalizada em 1492 com a conquista de Granada.
     Entretanto, como os espanhóis estavam atrasados em relação aos portugueses e, em razão disso, não poderiam usar a rota do Atlântico, se viram na contingência de investir na proposta do controverso navegador genovês Cristóvão Colombo de navegar em direção ao Ocidente com base na esfericidade da Terra.
     A viagem de Colombo resultou na “descoberta” da América, embora o comandante da expedição não tivesse exata noção da região que alcançara. Convencido que havia chegado às Índias, Colombo não titubeou em denominar seus habitantes de índios. A celebração do Tratado de Tordesilhas em 1494, momentaneamente pôs termo a divergência que surgira entre os reinos ibéricos e abriu caminho para que nos anos posteriores através da ação dos Adelantados, o Estado Espanhol promovesse a conquista das regiões da América continental com as expedições de Vasco Nunes Balboa em 1513, de Hernán Cortêz em 1521 e de Francisco Pizarro/Diego de Almagro em 1532 cujos resultados mais significativos foram as conquistas do Peru e do México por Cortêz e Pizarro respectivamente.
     Com relação ao expansionismo espanhol os resultados mais significativos foram: a localização das ricas reservas de ouro e prata que enriqueceram o Estado, o processo de “genocídio” que matou, em 100 anos, cerca de 50 milhões de ameríndios e a comprovação da esfericidade da Terra com a viagem de Fernão de Magalhães de 1519/1521.

Os efeitos da expansão ibérica

     Foram inúmeros e notáveis os efeitos nos campos econômico, político e social. Dessa expansão ibérica para Europa e porque não dizer para o mundo, como exemplo temos:
- a transferência do eixo comercial do Mediterrâneo para o Atlântico;

- a decadência comercial das cidades italianas superadas pelas cidades ibéricas;

- a ampliação das rotas comerciais e dos mercados que adquiriram dimensão mundial;

- o fortalecimento do Estado e da burguesia graças a riqueza acumulada pela expansão;

- a conquista de novos territórios e início do processo colonizador da América;

- a alta geral dos preços na Europa decorrente da chegada de um gigantesco volume de metais preciosos extraídos da América pela Espanha. Essa situação teve uma dimensão de tal ordem que foi denominada de Revolução de Preços.

     “Por boas razões é este período da História chamado de Revolução Comercial. O comércio que, crescia paulatinamente, passou a dar passos gigantescos. Não só o velho mundo da Europa e regiões da Ásia se abriram aos comerciantes empreendedores, mas também os novos mundos da América e África.
     Não mais se limitava o comércio aos rios e mares bloqueados por terras, como o Mediterrâneo e o Báltico. Se, anteriormente, o termo comércio internacional queria apenas dizer comércio europeu com uma parte da Ásia, agora a expressão se aplicava a uma área muito mais extensa, abrangendo quatro continentes, tendo rotas marítimas como estrada (…) a expansão dos mercados, nessa época, foi maior do que nunca. Novas regiões com que comerciar, novos mercados para os produtos de todos os países, novas mercadorias a trazer de volta.”

[HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do homem. Rio de janeiro, Guanabara. 1986. p.99]


                             
As tentativas inglesas e francesas de expansão

      No século XVI, houve ainda algumas tentativas de expansão por parte dos ingleses e dos franceses. Entretanto, fica claro que não passaram de atividades particulares, algumas de caráter pirático sobre as possessões ibéricas na América. Efetivamente a expansão desses povos se deu no século XVII, a partir da participação do Estado no processo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Questões objetivas sobre a emancipação afro-asiática

1. (Pucsp 2017)  “Virou-se para Teoria. Este ainda não dormia. Sem Medo segredou-lhe: – O que conta é a ação. Os problemas do Movimento...